Burnout e Qualidade do Sono: Relação de Risco para Policiais Militares

Caroline Schacker Evangelista²
Matheus Girardi Schueigart³


Introdução

Devido às características ocupacionais da carreira militar, a exposição à situação de risco e a privação do sono podem impactar diretamente na saúde do policial. A hipótese de que existe uma associação entre síndrome de burnout e má qualidade do sono já foi avaliada e comprovada em estudos envolvendo profissionais da saúde, porém há poucos dados na literatura que comprovam essa associação na atividade militar (PINTO, et al., 2018).
Destaca-se que a Síndrome de Burnout caracteriza-se como um distúrbio mental desencadeado por estresse crônico e/ou extensivo, explícito em colaboradores atuantes em organizações de intensas atividades de trabalho, e sua incidência vem afetando diversos países na contemporaneidade (ROCHA, DOS SANTOS E MIRANDA, 2020., apud MADRUGA, 2006). No Brasil, ela tem sido alvo de atenção para as autoridades responsáveis, principalmente, para a por implementações de políticas públicas de saúde ocupacional (ROCHA, SANTOS E MIRANDA, 2020., apud TRIGO, TENG E HALLAK, 2007).
A quantidade e a qualidade diária de sono, por exemplo, está intimamente relacionada ao estilo de vida adotado e à ocupação profissional desempenhada. O sono insuficiente é associado a um estado de ativação cognitiva sustentada devido à dificuldade de desapego dos pensamentos laborais durante o tempo de lazer. Ainda, o sono não reparador parece ser um preditor de Burnout clínico mais forte do que as demandas estressantes durante o trabalho, levantando a hipótese de uma relação direta entre qualidade do sono e aumento do risco de Burnout (LIMA ET AL., 2018, apud ZIMPEL, 2005).
Policiais com distúrbios do sono e com burnout não adequadamente diagnosticados e tratados, podem ter prejuízo do desempenho no trabalho, colocando em risco sua própria segurança bem como da população atendida por eles. O conhecimento e mapeamento da prevalência desses distúrbios podem nortear intervenções preventivas e curativas, reduzindo riscos individuais e coletivos (LIMA ET AL., 2018, apud ZIMPEL, 2005).
Frente ao exposto, a presente pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de avaliar a relação entre burnout e qualidade do sono em policiais militares em uma Casa Militar da região sul do país.

Metodologia

Trata-se de pesquisa do tipo transversal de cunho quantitativa realizada com quarenta e um policiais de uma casa militar da região sul do país no período de março de 2022.
Para o alcance dos objetivos da presente pesquisa, foi realizada avaliação da qualidade subjetiva e padrão habitual do sono por meio do instrumento Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI), realizada avaliação da Síndrome de Burnout por meio do Questionário de Identificação Preliminar de Burnout elaborado por Jbeili (2008) e aplicado um instrumento para identificação do perfil sociodemográfico.
Os instrumentos foram impressos e disponibilizados aos participantes para preenchimento e, posteriormente, os dados foram digitados, organizados e revisados, em uma planilha de excel do Microsoft Office. Foi realizada análise descritiva através de medidas de frequência, tendência central e dispersão. Para avaliar a associação entre as variáveis categóricas foi realizado o teste Qui-quadrado de Pearson; na análise das variáveis categóricas com os fatores em estudo quantitativos, foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes; a correlação entre as Escalas JBEILI e PSQI (quantitativas) foi obtida através do Coeficiente de Correlação de Pearson. A análise de todos os testes foi bicaudal, sendo consideradas significativas as análises estatísticas cujo p ≤ 0,05.
Todos os princípios éticos foram respeitados atendendo à Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, com aprovação da Comissão de Ética e Pesquisa, do respectivo Órgão Policial Militar (OPM).

Marco Conceitual

Estudos demonstram que há uma relação direta entre qualidade do sono e aumento do risco de burnout e sugerem que o sono insuficiente é um estado ativação cognitiva sustentada devido à dificuldade de desapego dos pensamentos laborais durante o tempo de lazer, são mais fortes preditores de burnout clínico do que as demandas estressantes durante o trabalho (BERNARDO ET AL.,2018 apud MARTINS ET AL.,2001; CHAVES E SHIMIZU, 2018).
RESULTADOS
Os policiais militares tem média de idade de 42,1±7,3 anos (intervalo 25 a 64 anos), são do sexo masculino (90,2%), da cor branca (70,7%), estão no posto de soldado (51,2%). A média de tempo de serviço na polícia militar foi de 19,6±7,6 anos e a média de tempo de serviço na atual função foi de 31,4 ± 19,5 meses. A maioria realiza atividade física (87,8%;n:36) na frequência de três vezes na semana (39%;n:16) (Tabela 1).


O presente perfil, vem ao encontro de pesquisa desenvolvida com objetivo de avaliar os níveis de atividade física e a percepção das dimensões da síndrome de burnout em 195 policiais militares em Belo Horizonte, Minas Gerais. O estudo identificou que que 92% dos sujeitos são do sexo masculino, 29% são solteiros, 66% casados e 61% possuem filhos. Sobre a escolaridade: 3% possuem ensino fundamental, 50% ensino médio, 24% superior completo e 23% superior incompleto. Em relação à atividade de trabalho, 74% trabalhavam na atividade operacional e 26% na administrativa. 66% trabalhavam no período diurno, 27% no período noturno e 7% alternavam entre os dois turnos, sendo que 81% dos sujeitos trabalhavam com horário fixo e 19% com horário rotativo (SOARES, et al., 2019).
Ao avaliar a relação entre burnout e qualidade de sono não foi evidenciada diferença estatisticamente significante (p = 0,147), entretanto, ao avaliar burnout, 51,2% (n:21) da amostra tinha possibilidade de desenvolver ela; 29,3% (n:12) já encontrava-se na fase inicial da síndrome; 9,8% (n:4) dos participantes já estava em fase de desenvolvimento e 4,9% (n:2) deles já estavam em uma fase considerável da doença (Tabela 2).


Estes dados vêm ao encontro de pesquisa conduzida com policiais militares do Estado do Mato Grosso, que evidenciou uma prevalência de 56% de Síndrome de Burnout (LIMA ET AL., 2018, apud GUIMARÃES ET AL. 2014). Ainda, resultados apresentados por QUADROS e MINAGAWA (2021), mostraram que 25% dos profissionais estudados estavam em linha de perigo e os outros 75% com indícios da Síndrome em níveis iniciais.
Ainda, ao avaliar qualidade de sono, foi evidenciado que os sujeitos têm em média 6,83±3,80 horas de sono/dia; o sono está ruim em 53,7% (n:22) da amostra e a presença de distúrbio do sono foi identificada em 17,1% (n=7) deles (Tabela 3).


Estudos apontam que há uma relação direta entre qualidade do sono e aumento do risco de Burnout e sugerem que o sono insuficiente é um estado ativação cognitiva sustentada devido à dificuldade de desapego dos pensamentos laborais durante o tempo de lazer, são mais fortes preditores de burnout clínico do que as demandas estressantes durante o trabalho (ROCHA, ET AL, 2021).
Para Bernardo, et al. (2018), o sono é um estado funcional, ativo, reversível e cíclico, com manifestações fisiológicas e comportamentais específicas, além dos parâmetros biológicos, acompanhadas por modificação da atividade mental, que correspondem ao comportamento de dormir.

Considerações Finais

Policiais militares com distúrbios do sono e síndrome de burnout não adequadamente diagnosticados e tratados podem ter prejuízo do desempenho no trabalho, colocam em risco sua própria segurança bem como da população atendida. Os resultados direcionam para a necessidade de medidas de prevenção e promoção da saúde.

¹ Resultados parciais de pesquisa desenvolvida para trabalho de conclusão de curso de especialização de Enfermagem do Trabalho da Faculdade da Região Serrana - FARESE, 2022. Não há conflito de interesse.
² Autora principal. Enfermeira graduada pela Universidade Regional do Noroeste do Estado - UNIJUÍ; especialista em Estomaterapia pela Universidade do Rio dos Sinos - UNISINOS; especialista em Enfermagem do Trabalho pela Faculdade da Região Serrana - FARESE e Policial Militar do Estado do Rio Grande do Sul
³ Autor. Médico graduado pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM; especialista em Medicina Interna pelo Hospital Conceição e especialista em Nefrologia pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
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