RESILIÊNCIA SOB PRESSÃO: INTEGRANDO AUTORREGULAÇÃO E MOTIVAÇÃO NA FORMAÇÃO DE POLICIAIS PARA O ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR

Samia Moreira Akel 1
Mário Picetskei Júnior 2
Micaela Juncos Maidana 3 
Paula Moiana da Costa 4


A natureza desafiadora das tarefas policiais, combinada com a necessidade de responder a emergências médicas, coloca esses profissionais em risco de alto estresse ocupacional, onde a necessidade de desenvolver habilidades fora de sua área de formação primária e adquirir novas competências rapidamente somam ao desgaste. O objeto desse estudo reside na análise das dinâmicas motivacionais — especificamente motivação intrínseca, regulação interna e externa, desmotivação e o índice de autorregulação em policiais militares da divisão de Inteligência - PR. A problemática central investiga como essas dimensões influenciam a percepção do conteúdo de Atendimento Pré Hospitalar, uma competência não tradicional entretanto crucial, por esses profissionais enquanto alunos. Objetivou-se compreender a relação entre os constructos motivacionais e a capacidade de autorregulação nesse contexto, afim de desenvolvolver conteúdos de sensibilização e treinamentos mais efetivos para essa população. Indiretamente, abordando estratégias para mitigar o estresse profissional e proporcionando aos policiais militares as ferramentas para aumentar a chance de sobrevida aplicando as técnicas do APH. Estudo transversal e exploratório. Análises quantitativas foram realizadas afim de avaliar os domínios motivacionais e o índice de autorregulação de cada aluno. Amostra (n=20) formada por policiais militares, que estavam como alunos num curso mandatório de capacitação em APH. Utilizada a Escala de Motivação Situacional (EMSI) e os resultados foram registrados conforme pontuação em cada domínio: Motivação Intrínseca, Regulação Identificada, Regulação Externa, Desmotivação e Índice deAutodeterminação. Analisando o pressuposto da autodeterminação e dos conceitos de motivação intrínseca e extrínseca, regulação interna e externa, e desmotivação (Ryan & Deci, 2000), o estudo explora como essas dimensões afetam a autorregulação - que é examinada como um indicador de eficácia pessoal e profissional. Num paralelo, a experiência de dominar uma tarefa desafiadora e o aumento da competência dela resultante, aqui ligadas diretamente a sobrevivência própria, de pares ou vítimas, trazem sentimento de eficácia (Guimarães e Bouchovitch, 2004).O entendimento e aplicação desses conceitos em programas educativos podem impactar na eficácia e a qualidade do atendimento prestado. Para análise dos resultados, foram consideradas médias e desvios padrão para cada uma das dimensões e serão aqui apresentadas e discutidas por domínios: Motivação Intrínseca (MI) (5,12+1,34), a média entre os policiais é moderada, indicando um interesse razoável em aprender e aplicar técnicas de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) por prazer e satisfação pessoal. O desvio padrão sugere uma variação considerável entre os indivíduos, apontando que alguns policiais possuem alta motivação intrínseca, enquanto outros apresentam níveis significativamente mais baixos. Regulação Identificada (RI) (6,11+0,86), média relativamente alta, sugerindo que a maioria dos policiais reconhece a importância pessoal e profissional do treinamento em APH. O desvio padrão menor reflete consistência maior entre os indivíduos quanto ao reconhecimento do valor do treinamento. Regulação Externa (RE) (5,08+1,07), a média é moderada, o que implica que os policiais estão motivados por fatores externos, como recompensas ou exigências institucionais. Desmotivação (D) (1,47+1,31), a média é baixa, indicando que a maioria dos policiais não apresenta falta de intenção ou interesse em participar do treinamento de APH. No entanto, o desvio padrão relativamente alto indica que há uma variação significativa, com alguns indivíduos apresentando níveis mais altos de desmotivação (n=2). A média do Índice de Autodeterminação (IA) (8,34+3,97) é relativamente alta, sugerindo que, em geral, os policiais têm uma boa capacidade de autorregulação em relação ao treinamento de APH, bem como, sugere-se pelo perfil de atividade exercida que essa é uma característica necessária, estimulada e treinada nessa população. No entanto, o desvio padrão elevado indica uma grande variabilidade individual, com alguns policiais apresentando níveis muito altos de autodeterminação, enquanto outros possuem níveis bem mais baixos (n=5 abaixo do desvio padrão). A maioria dos policiais demonstra um reconhecimento significativo da importância do APH (MI e RI), o que é um indicador positivo para o engajamento contínuo no treinamento. No entanto, há uma necessidade de aumentar a motivação intrínseca para garantir um envolvimento mais profundo e duradouro. A motivação impulsionada por fatores externos (RE) é moderada, sugerindo que embora os policiais respondam a incentivos externos, há espaço para fortalecer a motivação interna. A baixa média de desmotivação (D) é um ponto positivo, mas a variação considerável indica que alguns policiais podem se beneficiar de intervenções adicionais para aumentar o engajamento. O índice (IA) elevado sugere uma boa capacidade geral de autorregulação, essencial para o sucesso em situações de alta pressão. Contudo, a alta variabilidade aponta para a necessidade de estratégias personalizadas para apoiar policiais com níveis mais baixos de autodeterminação. Intende-se que o professor pode impactar de forma subjetiva em todas as dimensões, entretanto, neste trabalho, conforme descrição dos itens, entendemos que o papel do instrutor é avaliado principalmente pelo índice de regulação identificada, sendo o item que de fato implica no entendimento da tarefa e aplicabilidade na profissão, sendo essa ponte de suma importância para a validação da aula e exigência do comparecimento. Enfatizamos a importância do conteúdo no dia a dia do profissional, assim como a relevância pessoal do aprendizado, e ainda o desenvolvimento de competências de autorregulação, podem melhorar a percepção da satisfação profissional. Os resultados deste estudo evidenciam uma diversidade nas dimensões motivacionais e na capacidade de autorregulação entre os policiais militares em treinamento para Atendimento Pré-Hospitalar. Para melhorar a eficácia dos programas de treinamento em APH e aumentar a resiliência dos policiais, recomendamos incorporar elementos que tornem o treinamento mais envolvente e prazeroso, como simulações realistas e simulações; treinar e aprimorar a prática docente para instrutores especialistas e multiplicadores, uma vez que precisam estabelecer com clareza a relevância do APH para a segurança pessoal e de seus pares, também aumentando o reconhecimento do valor pessoal do treinamento; utilizar incentivos externos de forma complementar, mas sem depender exclusivamente deles para manter o engajamento; identificar e abordar as causas específicas da desmotivação em indivíduos (por ferramentas de rastreio e percepção do instrutor em ação), oferecendo apoio psicológico dentro da corporação e criando um ambiente de aprendizado positivo; desenvolver programas de mentoria para apoiar policiais com menor autodeterminação, promovendo uma maior confiança em suas habilidades de APH bem como de demais atividades policiais. Por fim, sugerimos que as estratégias apresentadas podem contribuir significativamente para melhorar a qualidade do atendimento prestado e aumentar a segurança e o bem-estar dos policiais e das comunidades que eles servem.

Referências
GAMBOA, Vitor; VALADAS, Sandra; PAIXÃO, Olímpio. Validation of a Portuguese Version of the Situational Motivation Scale (SIMS) in Academic Contexts. Av. Psicol Latinoam, 35 (3), 2017.
GUIMARÃES, S. É. R.; BORUCHOVITCH, E.. O estilo motivacional do professor e a motivação intrínseca dos estudantes: uma perspectiva da Teoria da Autodeterminação. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 17, n. 2, p. 143–150, 2004.
RYAN, Richard M; DECI, Edward L.. Self-determination theory and the facilitation of intrinsic motivation, social development, and well-being. American Psychologist, 55(1), 68-78, 2000.
RYAN, Richard M; DECI, Edward L.. Intrinsic and extrinsic motivation from a self-determination theory perspective: Definitions, theory, practices, and future directions. Contemporary Educational Psychology, 61, 2020.

1 Bacharel em Fisioterapia (UTP), Mestra em Fisiologia Humana (UFPR), Doutora em,Ciências da Saúde (PUCPR), Diretora do Instituto de Desenvolvimento e  Pesquisa em Saúde (IDPS), 11 anos de experiência com Ensino Superior, Metodologias Ativas e Pós Graduação.
2 Bacharel em Fisioterapia (UTP),Curso de Formação de Oficiais (PMPR),Curso de Operações Especiais, Curso de Controle de Disturbios Civis, Especialista em Educação Física Militar, Especialista Atendimento Pré-Hospitalar Policial (ESCP/PCPR) 17 anos Policial Militar.
3 Aluna do curso de Biomedicina da Universidade Positivo, Aluna de Iniciação Cinetífica no Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa em Saúde (IDPS).
4 Bacharel em Biomedicina (UFG), Mestre em Genética (UFG), Doutorado em Genética (UFPR), Pos doutorado em Genética (UFPR), Especialista em Design Instrucional (IDI), Coordenadora Geral Acadêmica (UniCambury), 10 anos de experiência.
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