Estresse Psicossocial e Distúrbio Musculoesquelético em Trabalhadores de Enfermagem¹

²Tânia Solange Bosi de Souza Magnago, ³Marcia Tereza Luz Lisboa, 4Rosana Harter Griep, 5Ana Lúcia Cardoso Kirchhof

Introdução
O objeto deste estudo foi a avaliação das demandas psicológicas e do controle do trabalhador sobre o trabalho e sua associação com a ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos (DME) em trabalhadores de enfermagem.
A enfermagem é classificada como uma das ocupações da área da saúde com alto risco de tensão e adoecimento. O estresse psicossocial tem sido associado à ocorrência de doenças ocupacionais. Dessas, os DME estão entre as maiores causas de afastamento do trabalho (CEVS, 2010). Eles são um importante problema de saúde pública e um dos mais graves no campo da saúde do trabalhador(GURGUEIRA; ALEXANDRE e CORREA FILHO, 2003). Dentre os principais fatores de risco estão: a organização do trabalho, os fatores ambientais e as possíveis sobrecargas de segmentos corporais em determinados movimentos, por exemplo: força excessiva para realizar algumas tarefas, repetitividade e posturas inadequadas (MAGNAGO; LISBOA e GRIEP, 2008).
Esta pesquisaobjetivou investigar as dimensões psicossociais demandas psicológicas e controle sobre o trabalho e sua associação aos DME em trabalhadores de enfermagem de um Hospital Universitário do Rio Grande do Sul, Brasil. Dentre os modelos que caracterizam o estresse psicossocial no trabalho, destaca-se o Modelo Demanda-Controle-MDC (KARASEK e THEÖRELL, 1990).

Marco conceitual
Segundo o MDC altas demandas psicológicas e baixo controle do trabalhador sobre o trabalho podem se constituir em indicadores de sobrecarga física e emocional no cotidiano laboral. Tal modelo distingue quatro experiências no trabalho: baixa exigência (baixa demanda e alto controle- grupo referência), trabalho ativo (alta demanda e alto controle), trabalho passivo (baixa demanda e baixo controle) e alta exigência (alta demanda e baixo controle- maior exposição).
Das quatro situações, o trabalho em alta exigência é o que apresenta maior propensão para adoecimento físico e psicológico. Os trabalhos ativo e passivo representam risco intermediário de adoecimento, já o trabalho em baixa exigência, representa menor risco, sendo esse considerado condição ideal de trabalho.

Método
Estudo seccional, com 491 trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário do Rio Grande do Sul. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM/RS (Parecer Nº 23081.000398/2006-10).
Para avaliação dos DME e do estresse psicossocial foram utilizadas, respectivamente, as versões brasileiras do “Standardised Nordic Questionnaire” (BARROS e ALEXANDRE, 2003) e “Job Content Questionnaire”(ARAÚJO, GRAÇA e ARAÚJO, 2003). Esta última está disponível no site http://www.jcqcenter.org.
Para a inserção dos dados foi utilizado o programa Epi-info®, versão 6.0, com dupla digitação independente. Após a verificação de erros e inconsistências, a análise dos dados foi realizada no programa SPSS® 13.0 for windows. Foram realizadas análises univariadas e bivariadas para fins de verificação de associação entre exposição e desfecho com cada uma das co-variáveis estudadas. O teste qui-quadrado foi utilizado para verificar se as associações encontradas apresentavam significância estatística (p < 0,05). Para a seleção das possíveis variáveis de confusão, adotou-se o critério de p< 0,10, sendo que aquelas associadas tanto à exposição quanto ao desfecho foram incluídas nos modelos multivariados.
Participantes com atividades classificadas como de alta exigência, trabalho passivo e trabalho ativo foram comparados com aqueles alocados na categoria de baixa exigência. A medida de associação utilizada foi a Odds Ratio (OR) e seus respectivos intervalos de confiança (IC95%).

Resultados
21,2% dos trabalhadores foram classificados em alta exigência, principalmente técnicos e auxiliares de enfermagem.
As chances de dor nos ombros(OR=1,97; IC95%=1,07-3,64), na coluna torácica (OR=1,83; IC95%=1,02-3,35) e nos tornozelos (OR=2,05; IC95%=1,05-4,02), foram maiores no trabalho em alta exigência quando comparado ao de baixa exigência, após ajuste por potenciais fatores de confusão.

Conclusão
As condições do trabalho da enfermagem assinaladas neste estudo convergem para a assertiva de que o ambiente hospitalar impõe desgaste danoso com conseqüências à saúde osteomuscular do trabalhador. Conclui-se que a prevenção dos DME envolve o entendimento dos fatores psicossociais e do estresse no ambiente laboral. Tal entendimento pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias de promoção à saúde e prevenção dos DME nessa classe trabalhadora, tais como: o maior aproveitamento de tecnologias para o desenvolvimento de trabalhos que exijam maior força física, a adoção de pausas esporádicas durante a jornada, a melhoria do clima organizacional, pela boa governança dos conflitos decorrentes dos posicionamentos diferenciados intra e inter equipes.
Em suma, faz-senecessário a adoção de medidas interventivas na estrutura organizacional, redimensionando os níveis de demanda psicológica e de controle no trabalho.

Bibliografia

ARAÚJO, T.M.; GRAÇA, C.C.; ARAÚJO, E. Estresse ocupacional e saúde: contribuições do Modelo Demanda-Controle. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 991-1003, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v8n4/a21v8n4.pdf . Acessado em: 15 fev. 2006.
BARROS, E.N.C.; ALEXANDRE, N.M.C. Cros-cultural adaptation of Nordic musculoskeletal questionnaire. Int. Nurs. Rev.,v. 50, n. 2, p. 101-8, 2003.
CENTRO ESTADUAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE/RS - CEVS. Agravos relacionados ao trabalho notificados no sistema de informações em saúde do trabalhador, Rio Grande do Sul, 2009. Boletim Epidemiológico, Porto Alegre, 2010.
KARASEK, R.A.; THEÖRELL, T. Healthy work-stress, productivity, and the reconstruction of working life.New York: Basic Books; 1990.
GURGUEIRA, G.P.; ALEXANDRE, N.M.C; CORREA, H.R. FILHO. Prevalência de sintomas músculo-esqueléticos em trabalhadores de enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem 2003 setembro-outubro; 11(5):608-13.
MAGNAGO, T.S.B.S; LISBOA, M.T.L.; GRIEP, R.H. Trabalho da enfermagem e distúrbio musculoesquelético: revisão das pesquisas sobre o tema. Esc Anna Nery 2008 setembro; 12(3):560-5.

Este trabalho pode ser acessado na íntegra:
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n3/pt_19.pdf 

MAGNAGO, Tânia Solange Bosi de Souza et al. Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbio musculoesquelético em trabalhadores de enfermagem.Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2010, vol.18, n.3, pp. 429-435. ISSN 0104-1169.

[1]Retirado da Tese de Doutorado “Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbio musculoesquelético em trabalhadores de enfermagem”, defendida e aprovada no Núcleo de Pesquisa Enfermagem e Saúde do Trabalhador (NUPENST), da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Projeto registrado no GAP nº. 019910, aprovação do CEP-UFSM/RS com CAAE: 0008.0.243.000-07. Bolsa PQI/CAPES-UFSM/UFRJ.
²Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – RS. Membro do Grupo de Pesquisa “Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem”, na linha de pesquisa “Saúde do Trabalhador”.
³Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Fundamental da EEAN/UFRJ. Membro do NUPENST/EEAN/UFRJ.
4
Enfermeira. Doutora em Ciências. Pesquisadora do Laboratório de Educação, Saúde e Ambiente da Fundação Osvaldo Cruz – FIOCRUZ – RJ.
5Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora Visitante da Universidade Federal do Paraná. Professora Aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC.

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