Resiliência Militar: Adaptação da Escala CD-RISC 25 para Mensuração em Cadetes da Academia das Agulhas Negras- Aman

Thaynara Carvalho de Lima 1, Atílio Sozzi Nogueira 2, Marcelo Américo Vieira Pessôa 3, George Hamilton de Souza Pinto  4, Marcos Aguiar de Souza 5

Resumo

A resiliência é uma competência socioemocional que possibilita a flexibilidade do sujeito em situações adversas, sendo fortemente associada a um maior repertório de respostas psicomotoras adaptativas diante dos estressores. É a capacidade de enfrentar, superar e transformar-se diante de experiências avaliadas como negativas. Apesar de sua relevância em contextos militares, no Brasil, o estudo da resiliência com amostras de militares é reduzido, restringindo-se a investigações isoladas nas forças auxiliares de alguns estados brasileiros. A escassez de instrumentos validados para o contexto militar é outro fator limitador, uma vez que os critérios de validade e fidedignidade da medida permanecem desconhecidos e podem ser fator comprometedor para as pesquisas na área. É nesse sentido que o objetivo no presente estudo foi a adaptação de um instrumento para mensuração da resiliência, no contexto do curso de formação de oficiais do Exército Brasileiro, que funciona na Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN (Resende-RJ). A escala inglesa, já traduzida para o Brasil, foi aplicada para amostra de militares dos quatro anos do Curso de Formação da Academia Militar das Agulhas Negras. Participaram do estudo 1.386 militares do sexo masculino, com idade entre 18 e 27 anos. A aplicação foi coletiva e de caráter voluntário. Os participantes preencheram a escala CD RISC 25. Tal instrumento, em sua forma original, é composto por 25 itens que avaliam 5 fatores (Competência pessoal; Baixa pressão; Adaptabilidade e redes de apoio; Controle e Espiritualidade). Na versão validada para amostras brasileiras, o instrumento permaneceu com 25 itens, porém reduziu-se a 4 fatores (Tenacidade; Adaptabilidade; Amparo e Intuição). A Análise Fatorial Confirmatória do tipo máxima verossimilhança realizada indicou uma estrutura de 18 itens, divididos em 2 fatores: Tenacidade (10 itens) e Adaptabilidade (8 itens). Os índices de ajuste atingiram níveis recomendados pela literatura nos principais indicativos do modelo (X 2 /gl; GFI, AGFI, RMR, CFI, TLI e RMSEA). Concluiu-se que a escala de resiliência CD RISC BR, modelo traduzido para o Brasil, está validada para os contextos militares, podendo ser reaplicada nas demais Forças para fins de pesquisa e diagnóstico, contribuindo para a compreensão da resiliência como fator de proteção para o desempenho de atividades em tais contextos.Palavras-chave: Resiliência, Validação de instrumento, CD-RISC, Militares.

1 Introdução

A flexibilidade cognitiva e a adaptabilidade comportamental constituem requisitos essenciais para a boa performance laboral de qualquer cidadão. Por isso, nas relações de trabalho, as organizações priorizam a contratação de profissionais cujo conhecimento não se restringe somente à dimensão técnica. O Capital Intelectual das Organizações, anteriormente denominado Recursos Humanos, está mais exigido quanto à qualidade do serviço apresentado. O conhecimento técnico da função/cargo torna-se insuficiente diante da exigência das habilidades e competências que contribuam na distinção organizacional e garantam boas condições de competitividade no mercado consumidor (Chiavenato, 2007). Com fulcro no contexto ora delineado, a carreira militar apresenta-se como uma escolha laboral singular. As adaptações requeridas do jovem cadete 2 permeiam aspectos cognitivos, físicos, técnicos e sociais. Aqueles que escolhem as carreiras das armas são obrigados a afastarem-se da convivência dos familiares e dos amigos de infância, adaptarem o corpo ao exaustivo exercício físico, a privação do sono, ao regime de internato, além do respeito à hierarquia e disciplina militares. O futuro oficial do Exército Brasileiro (EB) da carreira combatente, formado em quatro anos na Academia Militar das Agulhas Negras-AMAN, após um período de um ano na Escola Preparatória para Cadetes do Exército (EsPCEx), concluída sua formação, assumirá diversos funções de comando de tropa. Sob a responsabilidade deste oficial recaem os cuidados atinentes à satisfação profissional do subordinado, bem como a manutenção do interesse voltado para a dedicação ao cumprimento da missão atribuída.Na descrição apresentada emerge a necessidade de registrar a origem do vínculo entre os pesquisadores e o objeto de estudo. Todos os investigadores do presente estudo são militares nomeados para atuarem na Seção Psicopedagógica da AMAN na função de psicopedagogo ou psicólogo. A Seção Psicopedagógica daquele estabelecimento de ensino tem como objetivos principais, previstos no Regimento Interno da AMAN: a Orientação Vocacional do Cadete; o acompanhamento terapêutico e o aconselhamento pedagógico durante o Curso de Formação. A equipe multidisciplinar da Seção é constituída por uma psicóloga, uma assistente social, quatro orientadores de ano escolar – militares bacharéis em Ciências Militares, especialistas em Psicopedagogia – cuja função precípua é a de acompanhamento do discente-militar desde a entrada pelos portões da Academia até a saída como Aspirante-a-oficial.Debruçada sobre os afazeres descritos nesta unidade, emergiram as inquietações para suscitar uma pesquisa científica. Com a atenção voltada para desenvolver estratégias para qualificar a atuação profissional e como consequência direta prestar contribuição aos acadêmicos da AMAN e aos companheiros de trabalho, forjou-se as delimitações para o trabalho em desenvolvimento. As demandas de atendimento requeridas pelos cadetes exigem dos profissionais das áreas de Psicopedagogia e Psicologia uma atuação, em muitos dos casos, em nível clínico, com a realização, nos episódios mais graves, de ações psicoterápicas. No transcurso de muitos dos atendimentos, sobressaem, em número significativo, adaptação do cadete a profissão militar. Observou-se, em muitas circunstâncias, o cadete com manifestações ora explícitas, ora ocultas, de sentimento negativo quanto à autoconfiança em candidatar-se à carreira das armas. Do mesmo modo, em outras circunstâncias percebeu-se um sofrimento psicológico naqueles sujeitos que não eram condescendentes com as frustrações inerentes ao processo de formação do oficial. Esses sentimentos não eram comuns apenas aos neófitos – cadetes pertencentes ao grupo de alunos do primeiro ano de formação. Percebeu-se, de modo semelhante, o mesmo sentimento negativo, com números significativos, nos cadetes pertencentes aos demais anos escolares. Em que pesem as características próprias do grupo de cadetes do quarto ano (experiência com as rotinas militares, nível diferente de maturidade orgânica e psicológica, dentre outros), o fenômeno narrado não exclui os estudantes veteranos do universo de cadetes que revelam o sentimento negativo de autoconfiança. A recorrência do fenômeno mencionado nos cadetes despertou nos pesquisadores a curiosidade para desvendar os enlaces da formação do oficial do Exército Brasileiro da linha bélica e os trabalhos realizados no preparo desse profissional no desenvolvimento de suas competências socioemocionais. Com o intuito de contextualizar esse questionamento inicial, dúvidas diversas afloravam. Com vistas na empregabilidade na tropa, conforme ao previsto na Constituição da República (Brasil, 1988; art.142 da Constituição Federal), pode-se afirmar que o cadete é resiliente? Aqueles que apresentam essa competência socioemocional bem desenvolvida são os mesmos cujo desempenho cognitivo prospera? Há uma preocupação com a formulação de estratégias para criar condições de desenvolvimento das competências da resiliência do cadete no decorrer de todo o curso de formação? Se existe a preocupação, como são escolhidas as atividades e como são efetivadas tais práticas? Pode-se inferir com base no raciocínio analógico que, em razão da eficácia das atividades planejadas, o cadete do primeiro ano seria menos resiliente que o dos anos seguintes e, assim sucessivamente? A resiliência estaria mais bem desenvolvida nos cadetes com desempenho cognitivo mais alto? Todas essas inquietações contribuíram para o nascimento do presente estudo. A preparação dos militares para o enfrentamento das vicissitudes da carreira requer vivências, experiências, domínio e preparação técnico-científico, teórico, filosófico para o cumprimento adequado das missões. Neste contexto, a resiliência resplandece como atributo que auxiliará o futuro oficial no enfrentamento das adversidades e dificuldades de cada atividade de sua formação. O termo Resiliência origina-se nos empreendimentos científicos levados a termo por pesquisadores no campo das ciências exatas. Em 1807, o físico inglês Thomas Young divulgou os resultados preliminares de uma das pesquisas por ele realizadas. O aludido pesquisador, em consequências das observações feitas, depreendeu uma interessante característica dos materiais investigados: a capacidade elástica dos objetos de resistir à deformação ao sofrer uma força externa e em direção contrária. Após cessar a pressão, constatou o retorno do objeto ao seu estado anterior (Timoshenko, 1953). Lato senso, portanto, para os físicos, pode-se definir Resiliência como a propriedade de um material de voltar a sua forma original ao findar a causa de sua deformação (Pinto, 2002). Ao transpor o conceito formulado nos meandros das Ciências Físicas para o campo investigativo das Ciências Humanas, convencionou-se atribuir à resistência dos materiais na física a elasticidade psicológica do ser humano. Desse modo, a capacidade de enfrentar as adversidades oriundas do contexto no qual está inserido e retornar ao seu equilíbrio biopsicossocial anterior à vivência do abalo psicopatológico. Porém, é inviável a comparação literal, já que ao estudar a resiliência nos homens não se pode condicionar a elasticidade psicológica a somente uma capacidade intrínseca. De maneira análoga não se pode atribuir apenas aos aspectos externos ao ser humano. Para melhor entender a questão pode-se creditar a um conjunto de aspectos envolvidos na avaliação dos fatores de risco e de proteção. E diferentemente dos objetos, o homem, no paradigma existencialista, não retornaria ao estado anterior a pressão sofrida, transformar-se-ia. A resiliência tornou-se uma variável muito utilizada e avaliada pelas organizações de trabalho, devido à exigência atual de flexibilidade e adaptabilidade do trabalhador a fim de acompanhar a instabilidade do mercado. Contudo, faz se necessário distinguir o conceito. Para a física, resiliência é uma propriedade do objeto de sofrer pressão e retornar ao sua forma original ao cessar a força. Já para a Psicologia e demais ciências humanas, a resiliência é um processo de caráter transicional e relacional, mediado pela interação do sujeito com o ambiente (Rutter, 1987).Os estudos sobre a resiliência podem ser divididos em duas fases. A primeira data de 1970, quando as investigações almejavam sobrelevar os fatores de risco com vistas na avaliação das interferências negativas sobre a saúde do sujeito. Visava-se saber se tal situação levava-o ao adoecimento físico e/ou mental. Já a segunda etapa ocorre por volta de 1980. Nessa fase os estudos centram-se na dinâmica da própria resiliência humana, deixando de sobressaltar as vulnerabilidades. A pessoa resiliente desenvolve respostas psicomotoras adaptativas para as situações avaliadas como potencialmente estressoras. Ao vivenciar os momentos de estresse, o sujeito desestabiliza-se e reequilibra-se novamente. Contudo, a resiliência não é um atributo humano que obstaculiza os fatores de risco, os extinguem ou os tornem inertes. Os fatores de riscos estão presentes, todavia a resiliência aliada aos fatores de proteção que o sujeito adquiriu ao longo de sua vida, amenizam os efeitos daqueles e possibilita, ao homem, melhores formas de responder as variáveis adversas (Koller, 2011).A função da resiliência, no sentido considerado, é promover a capacidade adaptativa do sujeito diante das adversidades e vulnerabilidades do ambiente. O sujeito, com os fatores de resiliência desenvolvidos, não está imune ao sofrimento ocasionado pelas variáveis estressoras. Mas, embora sofra com elas, supera-as e sai fortalecido da experiência. Devido às causas expostas, a resiliência é considerada, por alguns estudiosos (Seligman, 2000), como fator preditivo de saúde mental e qualidade de vida.Grotberg, uma das principais pesquisadoras sobre a temática na denominada segunda geração, inovou ao vincular resiliência com a possibilidade de prevenção das circunstâncias negativas. Até aquele momento a resiliência concentrava-se nos resultados, após a vivência do episódio- estressor. Diferentes pesquisadores observaram que a resiliência podia ser promovida no sujeito e ainda permitir uma avaliação adequada sobre os fatos do dia a dia, com a antecipação de consequências prospectivas (Grotberg, 2005). A autora, à maneira de complementação, definiu resiliência ao asseverar que a competência permite ao indivíduo facear, vencer e, passada a experiência, transformar-se. No Brasil, os estudos sobre resiliência com amostras de militares, caracteriza-se pela escassez e restringe-se a investigações isoladas com foco nas forças auxiliares de alguns estados brasileiros (Lautert, 2015a, 2015b; Martins, 2012; Videira, 2011). Consideram-se também escassos os instrumentos validados para o contexto militar – outro fator limitador –, uma vez que os critérios de validade e fidedignidade da medida permanecem desconhecidos e podem comprometer as pesquisas na área. O serviço militar expõe o profissional a potenciais fontes de estresse. Ao militar é exigido a rápida resposta; o pronto emprego da ação, o atraso poderá impactar em risco a sua vida, outrem; aclimatação a diversos terrenos e atividades; disponibilidade imediata; dedicação exclusiva; privação do sono; aclimação corporal, entre outros. O trabalho com a resiliência poderá contribuir em formas mais adaptadas de enfretamento das fontes estressoras, diminuindo os riscos de adoecimento e melhorando o desempenho na atividade. Partindo da premissa na qual comandantes militares devem estar preparados e adaptados para o pronto emprego de suas habilidades em diversas condições de terreno e para objetivos distintos, podendo em um momento ser nomeado para uma missão de paz, em que atua com ações de cidadania às populações desamparadas pelo Estado, e em momento posterior ser deslocado para atuar como força repressiva contra comunidades de narcotraficantes. Avaliar se a formação do oficialato do Exército Brasileiro possui resiliência utilizando-se de instrumentos adaptados ao contexto militar, proporcionará a Instituição à avaliação de seu sistema de ensino, oportunizando melhorias na formação militar da AMAN.Com a escala adaptada e validada, os resultados futuros de sua aplicação subsidiarão o ensino acadêmico militar e o desenvolvimento maturacional do futuro oficialato do Exército Brasileiro.

2 Método

Participantes/População

Participaram do presente estudo 1.386 (mil e trezentos e oitenta e seis) Cadetes da AMAN, público essencialmente masculino, na faixa etária entre 18 a 28 anos, com naturalidade representativa das diversas regiões brasileiras, distribuídos nas diversas Armas/Quadro/Serviço (Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia, Intendência, Comunicações e Material Bélico) da área combatente do Exército Brasileiro e no Curso Básico 3 . A amostra foi construída com os discentes militares dos quatros anos de formação da Academia (420 do 1º ano; 393 do 2º ano; 303 do 3º ano e 270 do 4º ano). A Instituição, devido a relações diplomáticas com outras Nações, recebe, também, militares estrangeiros para formarem na AMAN. No ano de 2017, há 48 cadetes de 18 nacionalidades diferentes cursando junto aos brasileiros, que também comporam a amostra da presente pesquisa. Em média a AMAN possui 1.800 cadetes abrangendo os quatro anos de formação e todas as A/Q/Sv e Curso Básico. A participação na pesquisa foi voluntária, o discente pode recusar-se a responder a escala, aqueles que desejaram contribuir com o estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A aplicação do instrumento avaliativo não interrompeu ou alterou a rotina acadêmica, com isso o cadete que estava em outra atividade ou participando da escala de serviço, não compôs a amostra da pesquisa.

3 Instrumento

O instrumento selecionado para a investigação foi a escala inglesa CD RISC. A escala de Resiliência CD RISC foi construída em 2003, composta por 25 itens que avaliam 5 fatores: Competência pessoal; Baixa pressão; Adaptabilidade e redes de apoio; Controle e Espiritualidade. A escala foi traduzida e adaptada à amostra de brasileiros em 2013 por João Paulo Solano, permaneceu com 25 itens, porém reduziu-se a 4 fatores: Tenacidade; Adaptabilidade; Amparo social e Intuição. O instrumento brasileiro conservou a estrutura do original, na transculturação, o estudo psicométrico chegou a índices semelhantes ao modelo inglês. Tanto a escala original inglesa como a adaptada por Solano possui uma variação de resposta com cinco pontos ao modo de Likert, na qual 0 corresponde ao “não observado”; 1 “raramente; 2 “ás vezes”; 3 “frequentemente” e 4 “sempre”.

4 Procedimentos

A escala de Resiliência foi aplicada aos cadetes da AMAN durante as atividades disponibilizadas no Quadro de Trabalho Semanal (QTS) de cada ano das A/Q/Sv e Curso Básico à Seção Psicopedagógica da AMAN. Nesses tempos de aulas destinados aos assuntos pertinentes ao trabalho de aconselhamento e acompanhamento escolar do cadete, ocorreu a aplicação do referido instrumento avaliativo àqueles discentes voluntários a comporem a amostra da presente investigação. Com a escala respondida, os dados serão submetidos ao teste estatístico, com vistas a avaliar a consistência interna dos itens e a sua capacidade preditiva por ser um instrumento ainda não adaptado à amostra acima apresentada. Os resultados da escala de resiliência foram ajuizados em relação à adaptação a cultura militar, verificando se os fatores da escala inglesa (CD-RISC 25), traduzida para amostras brasileiras, possui correspondência psicométrica forte com a amostra de militares. Foram feitas a Análise Fatorial Confirmatória e os demais procedimentos do teste estatístico com auxílio dos softwares SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 19.0 e AMOS 19 (Analysis of Moment Structures) , guiando-se pela Modelagem de Equação Estrutural (MEE).

5 Resultados e Discursões

O primeiro procedimento executado foi a comparação entre a escala de resiliência CD-RISC BR adaptada a amostras brasileiras por João Solano com a escala aplicada aos Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras. A escala CD-RISC BR é um instrumento composto por quatro fatores: Tenacidade; Adaptabilidade; Amparo Social e Intuição. Com os dados da aplicação da escala CD-RISC BR na amostra militar foram realizados a análise fatorial confirmatória (AFC) do instrumento com o uso do AMOS, versão 19.0. e com o auxílio do SPSS versão 19.0. A AFC efetuada foi do tipo máxima verossimilhança. A fim de observar os instrumentos, foi utilizado o índice CAIC (Consistent Akaike's Information Criterion). Conforme Formiga (2011), o CAIC é um indicador que ajuíza a adequação de um instrumento em relação a outro. Quanto menor é o Valor do CAIC mais alta é adequação de um instrumento em relação ao comparado.Com vistas a contribuir na análise da escala aplicada com a amostra de militares, outros índices reforçam a adequação do instrumento e avaliam sua adaptação a nova amostra. Indicadores como X2/gl, RMR, GFI, SGFI, CFI e o RMSEA.A razão do χ2 (qui-quadrado) afere o nível de ajustamento da escala nova com a comparada. No estudo em evidência seria o nível da escala aplicada na AMAN com a já adaptada ao Brasil. O X 2 mensura o grau de pobreza do instrumento, valores altos demonstram que dispositivo não é aceitável. Portanto, quanto menor o valor, melhor. Em geral, o modelo ideal possui o valor de 1, sendo aceitável um valor de até 5. Valores superiores a 5 indicam um modelo muito empobrecido, que não deve ser aceito (Marôco, 2010). O Root Mean Square Residual (RMR) indica o ajustamento do modelo teórico aos dados, na medida em que a diferença entre os dois se aproxima de zero, que seria o valor em um modelo perfeito. Para o modelo ser considerado bem ajustado, o valor deve ser menor que 0,05.O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) são análogos ao R² em regressão múltipla. Portanto, indicam a proporção de variância–covariância nos dados explicada pelo modelo. Estes variam de 0 a 1, com valores na casa dos 0,80 e 0,90, ou superiores, indicando um ajustamento satisfatório do modelo.O Comparative Fit Index (CFI) compara, de forma geral, o modelo estimado e o modelo nulo, considerando valores mais próximos de 1 como ideais. Entretanto, valores até 0,9 são considerados satisfatórios. A Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%), é considerado um indicador de “maldade” de ajuste, isto é, valores altos indicam um modelo não ajustado. Assume-se como ideal que o RMSEA se situe entre 0,05 e 0,08, aceitando-se valores de até 0,10.A análise fatorial confirmatória da escala aplicada no presente estudo está resumida na Tabela 1 e Figura 1.

A escala CD RISC BR adaptada por Solano em 2013 com 4 fatores distribuídos em 25 itens ao ser avaliada a sua consistência interna quando aplicada com a amostra militar, o Alfa de Cronbach, nos resultados obtidos pelo programa SPSS, versão 19, chegou ao valor de 0,618, o índice aceitável é acima de 0,6 (Dancey & Reidy, 2013) o que demonstra fraca consistência interna do instrumento de Solano com a amostra de militares, apesar de estar acima do índice aceitável de 0,6. Ao excluir os fatores Intuição e Amparo Social da escala, o Alfa de Cronbach chegou ao índice de 0,79, aumentando a confiabilidade do instrumento para amostra castrense.À vista disso, a adaptação da Escala CD-RISC BR para os cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras permaneceu com os fatores Tenacidade e Adaptabilidade, retirando os fatores Intuição e Amparo Social, além dos itens 14 e 15 da escala, devido a fraca consistência dos fatores e itens referidos com os dados obtidos na amostra de militares. A escala adaptada para cultura militar da AMAN ficou com 18 itens dos 25 e com 2 fatores dos 4 da escala CD RISC BR.

6 Conclusões

Consoante expresso nas rubricas do Art. 142 da Carta Magna (Brasil, 1988) a missão precípua do Exército Brasileiro (EB) vincula-se diretamente com a defesa da Pátria, com a garantia dos poderes e constitucionais e com a garantia da lei da ordem. Para cumprir de forma efetiva a missão constitucional, a equipe gestora do EB realoca os potenciais humanos para os mais variados rincões do Brasil, povoando, dessa maneira, todas as regiões e fronteiras de um país com dimensões físicas continentais. As variadas condições climáticas, as diferenças de relevo, a diversidade da fauna e da flora, e a heterogeneidade da cultura no Brasil obrigam o militar, constantemente transferido de uma região para outra, a adaptar-se as novas cidades para as quais foi designado.
O militar do Exército Brasileiro destaca-se pelo ecletismo de atividades a ele atribuídas. Com vistas na defesa territorial atua em diversos tipos de terreno e em situações de guerra e não guerra, além das Missões de Paz. Para exercer atividades tão distintas e, que exigem do profissional competências e atitudes variadas, o militar deve ter um aprimoramento constante e uma educação continuada que permita acompanhar as novas exigências da carreira. Ao sublinhar-se o caráter eclético da profissão, não se pode deixar de realçar os muitos atributos da área afetiva que precisam ser desenvolvidos pelo militar. Para adaptar-se aos meios disponíveis para o cumprimento eficiente e eficaz da missão recebida precisa desenvolver a rusticidade. Quando auxilia o companheiro de farda e demais militares, envolvidos direta ou indiretamente nas atividades por ele exercidas demonstra camaradagem e espírito de corpo, pois valoriza a equipe enaltecendo os companheiros e a instituição. Destaque-se ainda a abnegação, ao preterir seu conforto e bem estar em benefício do outro. As peculiaridades da carreira militar exigirão do candidato a oficial do Exército uma flexibilidade psicológica que proporcione a adaptação as exigências diversas em cada atividade na qual será coadjuvante. A resiliência é uma competência socioemocional importante na construção dessa flexibilização do sujeito. Contudo, os estudos com amostras de militares são incipientes no Brasil, não há instrumentos avaliativos da resiliência adaptados a área militar brasileira. Os dados dessa pesquisa contribuirão para futuras investigações com vistas a auxiliar na qualidade de vida e na promoção do bem estar físico e psicológico dos militares das Forças Armadas. Verificou-se com o estudo a necessidade de desenvolvimento de instrumentos avaliativos adaptados a cultura castrense a fim de considerar as singularidades dessa profissão. Os resultados da investigação em evidência mostraram que a Escala de Resiliência CD RISC BR para adequar-se a amostra com militares permanecendo com a consistência interna, validade e preditividade na mensuração foi necessário a diminuição de 4 fatores (Tenacidade, Adaptabilidade, Intuição e Amparo Social) para 2 fatores (Tenacidade e Adaptabilidade) e a exclusão dos itens 14 e 15 que compunham o fator adaptabilidade. A remodelação do instrumento aumentou a sua confiabilidade para a pesquisa com militares. Percebe-se que a pesquisa apenas descortinou a exigência de novos estudos adaptados a profissão militar. Com fulcro na saúde e qualidade de vida no trabalho torna-se imprescindível a validação de novos instrumentos e aculturação de escalas já validadas e reconhecidas cientificamente para os contextos das Forças Armadas a fim de auxiliar no processo de promoção e desenvolvimento de recursos psicológicos como a resiliência, além de outras competências socioemocionais que permitirão a adaptabilidade e aclimatação dos militares a diversos e singulares atividades para qual foi designado conservando sua homeostase biopsicossocial.

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1 Mestranda em Psicologia-UFRRJ – 1º Tenente/AMAN.
2 Mestrando em Psicologia-UFRRJ – Major/AMAN-
3 Psicopedagogo pelo Centro de Estudo de Pessoal (CEP)- Tenente Coronel/AMAN-
4 Mestre em Psicologia-UFRRJ - Tenente Coronel/AMAN-
5 Pós Doutor em Psicologia e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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