¹Ana Patrícia Fonseca Coelho, ²Natália Machado França
Resumo
O câncer é uma doença com altas taxas de prevalência e de mortalidade entre os pacientes, com substancial transferência de cuidados deste à família ou acompanhante, especialmente nas fases avançadas da doença. Objetivou-se neste estudo, analisar o Estresse desenvolvido por familiares ou acompanhantes de portadores de C.A. em um centro de saúde de São Luís – MA. Tratou-se de um estudo descritivo, prospectivo, de abordagem quantitativa. A amostra constitui-se de 25 familiares ou acompanhantes de pacientes ontológicos. A obtenção de dados foi através da aplicação de um questionário. Os resultados foram: 52% dos entrevistados se encontravam na faixa etária foi acima dos 30 anos e 64% do sexo feminino. Constatou-se que após a descoberta da doença, 80% relataram que houve grandes mudanças nas condições de vida, 84% afirmaram cansaço emocional, quanto não está perto do enfermo e 60% não tem nenhum tipo de lazer (isolamento social). Sendo assim, verifica-se a importância de pesquisas que visem estudos sobre a sobrecarga do cuidador familiar ou acompanhante do paciente com câncer, com a implantação de programas que protejam esse importante fator social. O câncer por ser tão estigmatizado pode trazer razões culturais para tanto sofrimento, conhecer essas razões possa talvez ajudar os familiares envolvidos nos cuidados de pacientes oncológico a melhor entender e enfrentar esse importante papel de cuidador. Para cuidar do paciente oncológico é necessário conhecer, saber o que o outro necessita e como pode ajudá-lo nesse processo. A preocupação maior na oncologia, não é somente com a cura, mais sim com a qualidade de vida do paciente e do próprio cuidador.
Descritores: Estresse. Família. Câncer.
Cancer is a disease with high prevalence rates and mortality among patients with meaningful care of the family or partner, especially in advanced stages of disease. The objective of this study was to analyze the stress developed by relatives or guardians of patients with CA in a health center in São Luís - MA. This was a prospective, descriptive study, quantitative approach. The sample consisted of 25 family members or companions of patients ontological. The data was obtained through a questionnaire. The results were: 52% of respondents were in the age group was over 30 years and 64% female. It was found that after the discovery of the disease, 80% reported that there were major changes in living conditions, 84% reported emotional exhaustion, and not near the patient and 60% did not have any kind of leisure (social isolation). Thus, there is the importance of research for studies on the burden of the family caregiver or guardian of the patient with cancer to develop programs to protect these important social factor. The cancer to be so demonized can bring cultural reasons for suffering, knowledge of these reasons may perhaps help the families involved in the care of cancer patients to better understand and address this important caring role. To care for cancer patients is necessary to know, know what the other needs and how it can help this process. A major concern in oncology, not only with the cure, but with the quality of life of the patient and the caregiver himself..
Descriptors: Stress. Family. Cancer.
Introdução
O processo de vivenciar uma doença grave em alguma fase da vida está permeado de alterações significativas no cotidiano, fato que não ocorre somente com quem adoece, mas se estende a todos os membros envolvidos no contexto familiar. Tentar entender o surgimento do câncer e seus tratamentos constitui uma fonte de estresse, capaz de desencadear desordens de ajustamento nos familiares que convivem com esse fato diariamente. Normalmente, o surgimento do câncer é sempre uma catástrofe pelo poder devastador que tem, porque em sua maioria provoca uma crise na família. Bizzarri (2001) relata que o câncer pode ser causado por fatores externos (substâncias químicas, irradiação e vírus) e internos (hormônios, condições imunológicas e mutações genéticas). Os fatores causais podem agir em conjunto ou em seqüência para iniciar ou promover o processo de carcinogênese. Aliado a essa idéia, Weinberg (2007) destaca que o câncer é uma doença caracterizada por uma população de células que cresce e se dividem sem respeitar os limites normais, invadem e destróem tecidos adjacentes, metástase. De acordo com o autor, a forma como o câncer vai se manifestar depende basicamente do tipo de célula que sofreu essas alterações e o local ou órgão do corpo onde isso aconteceu. Já as metástases se originam em um lugar e aparecem noutro, mas têm características semelhantes às células do tumor que deu origem a elas. Por exemplo, um câncer de mama pode dar metástase para o pulmão ou cérebro e essas células vão se parecer, em nível microscópico, às do tumor de mama.
Mesmo com todos os avanços já ocorridos, ainda no século XXI, na área da oncologia, o câncer permanece como uma doença de causa enigmática e com tratamentos ainda não totalmente eficientes. Todavia, para Pinho (2005) o tratamento do câncer pode ser feito, pela cirurgia, radioterapia ou quimioterapia, utilizada de forma isolada ou combinada, dependendo do tipo celular do órgão de origem e do grau de invasão do tumor.
Segundo Brentani et al (2003), ter tido um parente próximo com algum câncer confere à pessoa um maior risco de ter aquele tipo de câncer. A isso se chama agregação familiar. O que significa que os cânceres podem se agregar em famílias. Isso acontece em parte porque esses cânceres podem ter uma predisposição genética, mas em parte também pelo estilo de vida, hábitos e características culturais que se agregam em famílias. Pessoas expostas a fatores de risco semelhantes podem desenvolver o mesmo tipo de câncer.
De fato o diagnóstico de câncer pode gerar ansiedade, tensões familiares destaca Arantes et al (2003), que por muito tempo considerou-se que os membros da família estariam imunes ao estresse da doença que acomete o paciente, desde que os membros não apresentassem os sintomas da doença, estariam protegidos dos seus efeitos. Atualmente sabe-se que tal impacto atinge todos os outros membros.
Zacabi (2002),enfatiza que o processo de doença, como o câncer, acarreta mudanças e transtornos em toda a estrutura familiar. Ressaltando que a família que vivencia em sua rotina diária algum tipo de dano físico ou emocional de um de seus membros apresenta maior vulnerabilidade para a vivência de problemas emocionais. Dentre esses problemas, o mais comum é o estresse que segundo Kirsta (2001), sendo um conjunto de reações fisiológicas que se exageradas, em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo.
White (2000) em seus estudos, relata que o estresse pode ser dividido em dois tipos básicos: o estresse crônico e o agudo. O estresse crônico é aquele que afeta a maioria das pessoas, sendo constante no dia a dia, mas de uma forma mais suave. O estresse agudo é mais intenso e curto, sendo causado normalmente por situações traumáticas como a depressão na descoberta de uma doença grave, como o câncer.
Algumas mudanças são inevitáveis, mas elas constituem um dos maiores fatores de estresse com os quais o ser humano tem que lidar. Segundo Kirsta (2001), a família pode evitar uma situação ainda mais desgastante, modificando lentamente o seu estilo de vida, alterando as suas prioridades. Tais mudanças fazem-se necessárias a partir do diagnóstico, das informações reunidas acerca do caso e das decisões a serem tomadas em relação ao tratamento.
Segundo Nunes (2001), o diagnóstico de uma doença grave desencadeia uma crise vital na família. Exige do paciente e de sua família mudanças de papéis, buscas de estratégias para enfrentar o problema, uma alteração de posturas, atitudes e comportamentos, como também um longo período de adaptação a essas mudanças.
Para compreender melhor todas as mudanças ocorridas com a chegada da doença, Barreto (2007), alegou que esse fenômeno é constituído por três processos distintos que se inter-relacionam, sendo eles: descobrindo a doença, que se caracteriza como uma fase de conflito emocional com a descoberta do diagnóstico da doença; percebendo mudanças após o diagnóstico de câncer, que pontua as adulterações no seio familiar que envolve vários aspectos da vida, entre eles, orgânicos, sociais, emocionais, psicológicos e espirituais; e tendo que conviver com o câncer, que compreende adaptar-se ao viver no mundo com as recordações dos processos anteriores, porém buscando adaptar-se a cada dia a um novo estilo de vida.
Detectar o estresse em familiares ou acompanhantes de portadores de C.A., nos aspectos que envolvem a descoberta e o esclarecimento da doença, e os tratamentos, é de suma importância para que as informações possam prepará-los para a nova realidade, para que saibam direcionar a maneira de lidar com as futuras situações vivenciadas no seio familiar.
Diante do exposto justifica realização deste estudo, tendo como objetivo analisar o Estresse desenvolvido por familiares ou acompanhantes de portadores de C.A em um Centro de Saúde de São Luís – MA.
Metodologia
Tratou-se de um estudo descritivo, de campo, com abordagem quantitativa, em um hospital público no município de São Luís - MA. Os dados foram coletados no mês de maio de 2009. A população foi constituída de 25 familiares ou acompanhantes de pacientes oncológicos que estão em tratamento no período da pesquisa. A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista aplicada individualmente, onde a seleção dos entrevistados foi de forma voluntária e aleatória, o questionário era composto por questões fechadas, referentes à idade, sexo, mudanças ocorridas no seio familiar após a descoberta da doença, o estado emocional do familiar perante o enfermo e o seu horário de laser e ficha de registro das informações relativas à instituição. Respeitando-se os aspectos éticos, a pesquisadora se propôs a agir com descrição e sigilo sobre a instituição e seu atendimento, os entrevistados assinaram um termo de compromisso, garantindo sua participação e anonimato. As informações colhidas foram tabuladas e organizadas estatisticamente.
Resultados e discussões
A seguir serão demonstrados os resultados encontrados no estudo através de tabelas e suas respectivas discussões.
Tabela 1 – Distribuição dos entrevistados, segundo o sócio-econômico. São Luís, 2009.
De acordo com a tabela 1, evidenciou-se que o maior percentual da faixa etária foi acima dos 30 anos 52%. Com relação ao sexo predominou o feminino 64%.
Segundo Varona et al (2006) a prevalência de cuidadores do sexo feminino concorda com vários estudos realizados em cuidadores familiares e reflete a realidade de noss cultura, na qual a mulher possui o instinto de cuidar e fornecer o apoio necessário nas diversas situações de dificuldade.
Tabela 2 - Distribuição dos entrevistados, segundo a relação familiar após a descoberta da doença. São Luís, 2009.
* Os resultados não obtiveram 100%, devido as pesquisadas descrever mais de uma opção.
Na tabela 2 com relação ao meio familiar após a descoberta da doença verificou-se que 80% relataram que houve grandes mudanças nas condições de vida.
Floriani (2006) ressalta que cuidar do doente de câncer, em especial, na fase avançada da doença é descrita como tarefa que provoca desequilíbrio, sobrecarga física, social e econômica.
Conforme Hayashi (2006) após o aparecimento da doença, as relações familiares ficam abaladas. Quanto à estrutura familiar é sólida, a união surge e traz à tona sentimentos de carinho, cuidado, atenção, respeito e amor, que podem estar esquecidos ou pouco demonstrados. Entretanto, essa forma positiva de influência familiar pode não estar presente em todos os casos.
Tabela 3 - Distribuição dos entrevistados, segundo como se sente quando não se encontra na presença do enfermo. São Luís, 2009.
* Os resultados não obtiveram 100% ,devido as pesquisadas descrever mais de uma opção.
Fonte: França, 2009.
Segundo a tabela 3, 84% afirmaram cansaço emocional, quanto não está perto do enfermo.
De acordo com Camponero et al (2004) o cotidiano do cuidador abordado na literatura é abundante, os estudos que demonstram a sobrecarga que ele tem com sua estafante e estressora atividade de cuidados diários e ininterruptos. Talvez este seja um dos aspectos mais bem registrados com relação ao cuidador familiar, tanto no campo oncológico, quanto em outros campos dos cuidados em longo prazo. Percebemos que poucos trabalhos têm examinado pacientes e famílias ao mesmo tempo, a maioria tem avaliado a família após a morte, no período de luto. Pouco se conhece sobre o período que antecede a morte do paciente
Floriani (2004) relata que a experiência do convívio de pacientes com câncer, cuidados pelos seus familiares, tem demonstrado, por meio de investigação qualitativa, transformações no plano existencial para o cuidador, com resignificação de sua vida e com novas diretrizes, frutos da vivência com os cuidados que realizaram.
Rezende, (2005) investigou 133 cuidadores de pacientes sem possibilidades de cura, avaliando a freqüência de ansiedade e depressão desses cuidadores. Observou-se, entre outros fatores, que 84% referiram mudança na rotina pelo fato de cuidar. A ansiedade foi detectada em 99 % cuidadores principais e a depressão em 71%. O processo de cuidar de paciente na fase terminal levou a altas taxas de ansiedade e depressão.
Segundo Carvalho (2004) percebe-se a vulnerabilidade destes cuidadores do paciente oncológico por diversos fatores associados ao surgimento de manifestações psíquicas: visão negativa do cuidador sobre a doença ou sobre o impacto que esta doença tem na sua vida, ausência de uma rede de suporte, relação difícil com o paciente. Para o cuidador não se trata apenas de sobrecarga das tarefas mais sim uma ameaça a sua saúde.
Conclusão
Com base nos resultados da pesquisa e de acordo com o objetivo proposto, pode-se sugerir as seguintes conclusões: que maioria era do sexo feminino (64%) e se encontravam na faixa etária foi acima dos 30 anos (52%). Constatou-se que após a descoberta da doença, 80% relataram que houve grandes mudanças nas condições de vida, 84% afirmaram cansaço emocional, quanto não está perto do enfermo e 60% não tem nenhum tipo de lazer (isolamento social).
Conclui-se o que afeta o cuidador de pacientes com câncer não é só os acontecimentos ou características de seus doentes, e sim suas emoções e comportamentos frente a doença. Percebe-se que o cuidador revela um dedicar-se por inteiro ao cuidado ao ser doente e que o cansaço e a tristeza deste ator principal estão relacionados a desgastes físico e emocional.
Lembrando que o câncer por ser tão estigmatizado pode trazer razões culturais para tanto sofrimento, conhecer essas razões possa talvez ajudar os familiares envolvidos nos cuidados de pacientes oncológico a melhor entender e enfrentar esse importante papel de cuidador. Para cuidar do paciente oncológico é preciso: conhecer, saber o que o outro necessita e como pode ajudá-lo nesse processo. A preocupação maior na oncologia, não é somente com a cura, mais sim com a qualidade de vida do paciente e do próprio cuidador.
Referências
ARANTES, M. A. C.; VIEIRA, J. F. Estresse. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
BIZZARRI, Mariano. A mente e o câncer: um cientista explica como a mente pode enfrentar a doença. São Paulo: Summus, 2001.
NUNES, Silva Célia. Como o câncer (des)estrutura a família. São Paulo: Annablume,
2001.WANDERBROOCKE, A. C. N. S. Perfil do cuidador do paciente idoso com câncer. Psico, Porto Alegre, v. 33, n. 2, p. 401-412, jul./dez. 2002.
1Enfermeira, especialista em saúde mental, docente do curso de graduação em enfermagem UNICEUMA.
2Enfermeira, bacharel e Licenciada pelo UNICEUMA.