Hospitalar ATS Qualidade de Vida: Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), Pré e Pós Programa de Promoção de Saúde

Alexandra Hübner, Adriana Wander, Andréia Appel, Bárbara Schneider, Lisiane Dresch, Lúcia Cavalheiro, Luciane La Rocca, Luciane Leonenko, Sara Cecin

1 Introdução

Pessoas em idade produtiva chegam a passar cerca de um terço do seu dia no local de trabalho. A QVT representa uma relação entre a qualidade de vida dentro e fora do ambiente de trabalho. Nos últimos 20 anos as pesquisas vêm avançando na investigação sobre a efetividade de programas de promoção à saúde do trabalhador. No entanto há uma diversidade de intervenções e resultados apresentados. Ambientes ergonômicos e que propiciem boas práticas de saúde, bem como estar fisicamente ativo podem apresentam benefícios à saúde física e mental. Assim, torna-se necessário avaliar a QVT com um instrumento específico, a fim de identificar quais os aspectos que precisam ser modificados e estabelecer um plano de ação que repercuta positivamente na nessa qualidade de vida.
A qualidade de vida relacionada ao trabalho pode ser avaliada por meio de um questionário exclusivo para este fim, o “Quality of Working Life Questionnaire - QWLQ-78”, o qual foi elaborado a partir do questionário da Organização Mundial da Saúde intitulado WHOQOL-100 (1998). O QWLW-78 é uma versão análoga à adotada no desenvolvimento daquele da Organização Mundial da Saúde, adaptada e validada pra o uso no Brasil (Reis Júnior, 2011).

2 Objetivos

Avaliar a QVT pelo questionário QWLQ – 78, pré e pós 1 ano de intervenção.
Criar uma política organizacional voltada à QVT com base nas respostas do QWLQ – 78, com foco no domínio mais comprometido.

3 Metodologia da Pesquisa

Estudo prospectivo, experimental do tipo antes e depois, sem grupo controle. Local: empresa privada do segmento da saúde (Hospitalar ATS).
Amostra: todos os colaboradores que trabalhavam na sede da empresa.
Aplicados 2 questionários: perfil dos colaboradores e o QWLQ–78 pré e pós intervenção.
O perfil dos colaboradores foi realizado por meio de um questionário genérico, desenvolvido pelos autores do programa, que identificava dados antropométricos, história de doença prévia, características comportamentais, situações de saúde que levaram ao afastamento do trabalho e realização de vacinas. Além disso, contava com um campo aberto para sugestões de melhorias relacionadas à QVT.
O QWLQ – 78 é um questionário composto por 78 questões objetivas, subdivididas em quatro grandes domínios: físico/saúde, psicológico, pessoal e profissional. A pontuação é de zero a 100, em escore crescente de satisfação, a qual é posteriormente é categorizada desde “muito insatisfatória” até “muito satisfatória” (satisfação do colaborador em relação à sua QVT).
Foi elaborado um plano de ação baseado no resultado do perfil da empresa e com enfoque no domínio de menor pontuação do QWLQ–78.
O aspecto que menos pontuou o QWLQ – 78 em 2014 foi o físico/saúde, o que corroborava com os dados observados no perfil de saúde da empresa e com as sugestões enviadas.
A política organizacional que a Hospitalar ATS adotou para melhorar a QVT contemplou alimentação saudável, exercício físico regular, readequações ergonômicas, ginástica laboral e consultorias gratuitas da equipe de saúde multidisciplinar para os colaboradores.
O tópico alimentação saudável foi desenvolvido por meio de parcerias com restaurantes com foco na culinária saudável na área de abrangência geográfica da sede da empresa, bem como com consultorias gratuitas da equipe de saúde multidisciplinar, incluindo nutricionista. Além disso, as bolachas das estações de cafezinho foram substituídas por frutas. Diariamente nestes locais são disponibilizadas frutas da época frescas e/ou secas e chás ofertados gratuitamente e livremente aos trabalhadores.
O estímulo ao exercício físico regular foi dado por meio de parcerias com academias das proximidades geográficas, as quais ofereciam desconto na mensalidade aos colaboradores da Hospitalar ATS. A empresa também concedeu um abono do ponto de 30 minutos duas vezes na semana aos colaboradores matriculados em academias, mediante comprovação de frequência.
As readequações ergonômicas ocorreram de forma gradual e em ordem de prioridade nas estações de trabalho, a fim de adequar o local ao colaborador que ocupava o posto de trabalho.
A Hospitalar ATS incorporou a ginástica laboral 2x/semana em horários que contemplassem todos os colaboradores. Nos demais dias em que não havia o profissional, os funcionários eram estimulados a realizar a sequência dos exercícios propostos (todas as estações de trabalho possuem material de apoio ilustrativo com diversos exercícios de ginástica laboral).
Foram oferecidas também as consultorias de saúde com a equipe multidisciplinar de saúde, sem qualquer custo ao colaborador, a quem tivesse interesse no acompanhamento pontual ou com continuidade, com médico, enfermeiro, nutricionista e/ou fisioterapeuta.
Todos os benefícios deste programa foram incorporados ao quotidiano da empresa, permanecem presentes e estão sob análise de qualidade interna por questionários de satisfação. As adequações são realizadas na medida das necessidades.
O período de análise dos dados foi: julho/14 a dezembro/15.

4 Tratamento Estatístico

Os dados tiveram distribuição simétrica. Foi utilizado o teste t-Student para amostras independentes, com significância estatística considerando o valor de p<0,05.

5 Resultados

O perfil de saúde dos colaboradores de 2014 mostrou uma predominância do sexo feminino, raça branca e idade dos colaboradores (66%) em até 40 anos.
Foram 44% das respostas válidas que indicaram sobrepeso ou obesidade, onde 33,3% da equipe mostrava-se sedentária, apenas 23% realizavam o fracionamento adequado das refeições (5-6/dia), 3% eram tabagistas e todos estavam com as vacinas em dia. As queixas predominantes do último mês foram de sono/cansaço e/ou algum tipo de dor relacionada à condição ergonômica.
O resumo dos demais dados mostrou: 36% referiu trabalhar em outro local além da Hospitalar ATS, 15% referiu afastar-se do trabalho por algum tipo de doença no último ano e 83,3% responderam que estavam dispostos a modificar seus hábitos de vida para melhorar a sua saúde. Foram enviadas 33 sugestões para melhorar a qualidade de vida no trabalho.
Dados pré-programa relacionados ao QWLQ – 78: menor escore no domínio físico/saúde: 58,7, categorizado como qualidade de vida satisfatória (55,1 – 77,5).
A adesão à prática de exercício físico passou de 6% para 18%, o investimento da empresa no lanche passou de R$ 240,00/mês em bolachas para R$ 260,00/mês em frutas. O reajuste do plano de saúde dos colaboradores passou de 35% para 22,66%.
Após mais de 1 ano de intervenção o escore QWLQ – 78 físico/saúde ficou em 65,4 (p<0,05). O resumo dos demais domínios do questionário encontra-se na tabela 1.

6 Considerações Finais

A QVT, mensurada pelo QWLQ – 78, não sofreu modificação na categorização geral após 1 ano de implantação e permanência das intervenções (permaneceu como satisfatória). Analisando os 4 domínios de forma separada, o único índice que apresentou diferença estatística significativa foi o do aspecto físico/saúde, com aumento de cerca de 11,4% em relação ao basal. Saímos de 58,7 que estava próximo ao limiar inferior da faixa de satisfatório para 65,4, muito próximo ao ponto médio do intervalo.
As ações focadas no domínio físico/saúde proporcionaram mudança de hábitos, mostraram-se efetivas na promoção de saúde aos colaboradores e repercutiram positivamente na sinistralidade do plano de saúde.
Os resultados obtidos por esse instrumento podem ser úteis para nortear a implantação e o gerenciamento de um programa de qualidade de vida no trabalho nas empresas. É fundamental ressaltar que a QVT é afetada por múltiplos fatores e que todos os domínios deste instrumento merecem ser trabalhados, a fim de melhorar efetivamente esta qualidade de vida no trabalho percebida pelos colaboradores.

Referências

Reis Junior, D.R., Pilatti, L.A., Pedroso, B. Qualidade de vida no trabalho: construção e validação do questionário QWLQ-78. Revista Brasileira de Qualidade de Vida, v.03, n. 02, jul/dez 2011
ALVES, R. Qualidade de vida no trabalho – Um modelo para diagnóstico, avaliação e planejamento de melhorias baseado no desdobramento da função qualidade. 2001.117f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis.

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