Leandro Felipe Thumé Beier1, Rafael Gonçalves da Costa2, Graziela Bianca Baldissera Visentin3, João Vicente Meneghetti Scholles4
1 Introdução
O SESI – Serviço Social da Indústria, através do edital SENAI/SESI de Inovação, desenvolveu um projeto em parceria com uma indústria do Rio Grande do Sul para pilotar uma metodologia direcionada à mudança de comportamento e à redução de fatores de riscos para a saúde. Partiu-se do pressuposto que ações com foco coletivo (apoio de colegas, familiares e amigos) constituem um fator importante na melhoria dos níveis de saúde e qualidade de vida, podendo gerar melhores resultados do que as ações com foco somente no indivíduo. O projeto envolveu metodologias em intervenções sociais através da tecnologia inovadora para a mudança de comportamento e redução de fatores de risco em saúde. Apesar do reconhecimento da importância do tema, as ações e programas ainda são olhados de forma pontul, de caráter individual, com impacto limitado e com pequenas modificações ao longo do tempo.
Neste sentido, acredita-se que Intervenções integradas e planejadas aumentam a sua eficácia. A proposta deste projeto envolveu novos conhecimentos em comportamento humano e antropologia e busca não somente agir no indivíduo, mas também desenvolver a cultura e ambientes saudáveis que podem trazer repercussões positivas para toda a companhia e, consequentemente, melhorar a sua performance econômica e sua imagem social. O projeto é considerado uma intervenção social replicável com impacto social na qualidade de vida dos trabalhadores. A adaptação da proposta do serviço para a saúde do trabalhador será desenvolvida na interação com a indústria.
A proposta desta ação parte de uma compreensão sistêmica dos determinantes da saúde, englobando a interação da ecologia humana com os ambientes natural e cultural. Em outros termos, o serviço parte da compreensão que a saúde das pessoas é decorrente da complexa interação de aspectos físicos, psicológicos e sociais. Nessa concepção sistêmica de saúde, entende-se que o atual Sistema de Serviços de Saúde é apenas um dos determinantes da boa condição de saúde. Outro determinante para uma boa saúde é o estilo de vida adotado pelas pessoas, que inclui os aspectos ligados ao comportamento e ao ambiente psicológico, social e econômico em que elas estão inseridas. As condições de trabalho, por seu turno, são outro determinante da saúde que relaciona tanto os aspectos físicos do local de trabalho quanto aos aspectos do ambiente psicológico, social e econômico que o caracterizam.
Por conta disso, a proposta do projeto não depende apenas da intervenção técnica, mas sim, devolver à comunidade (trabalhadores e empregadores) a responsabilidade do cuidado com a saúde. Neste sentido, a inovação proposta por este trabalho parte da compreensão da saúde e estilo de vida como um estado que só pode ser conservado pelo comprometimento das pessoas. Para que isso seja possível, é necessário desenvolver ferramentas que possibilitem às pessoas a estabelecer outro tipo de relação com seus hábitos, com o ambiente onde vivem e com os profissionais que o assessoram na manutenção da qualidade de vida. Novos processos e novas interfaces precisam ser projetados para auxiliá-los nessa jornada.
Considerando-se as informações e as evidências de que o apoio de colegas, familiares e amigos se constituem em fator importante na melhoria nos níveis de saúde e qualidade de vida e de que as ações com foco individual apresentam baixos indicadores de sucesso na mudança de comportamento e na redução de fatores de risco, buscou-se utilizar a metodologia proposta pelo Professor Judd Allen (referenciado no plano de negócios em anexo).O treinamento em suporte entre colegas e liderança em bem-estar já foram validados pelo SESI Departamento Nacional através de cursos auto instrucionais lançados na plataforma SESI Educa.
O projeto apresentado pretende somar as ferramentas já desenvolvidas, otimizando essas importantes intervenções que, quando utilizadas simultaneamente e integradas, poderão atuar como suporte fundamental na mudança cultural necessária na melhoria do bem-estar e saúde da empresa. Assim, os esforços para o bem-estar terão muito mais chances de sucesso, pois a atuação envolverá o desenvolvimento de recursos na cultura. Para tal, é necessário capacitar comitês, profissionais a utilizar essas ferramentas de acesso e de apoio.
O Objetivo apontado pela empresa foi à diminuição do “turnover”, pois a empresa percebia uma diminuição no seu quadro de funcionários próximo ao verão devido à empresa ficar situada no litoral norte do rio grande do sul e os salários mais atrativos na temporada de férias refletia em uma queda em seu quadro funcional.
Preocupados com essa realidade contataram o SESI para o desenvolvimento de alguma estratégia para manter estes funcionários durante este período. Diante disso, o SESI propôs à empresa desenvolver a metodologia “Treinamento de liderança em bem-estar e suporte entre colegas” (peersupport) implantando a cultura do bem-estar entre os trabalhadores da indústria e fortalecendo o programa de qualidade de vida na empresa.
2 Metodologia
O projeto foi desenvolvido através da metodologia do Professor Ph.D Judd Allen, que busca formatar metodologias e ferramentas para um programa de suporte entre colegas, liderança e “coaching”. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que foi aplicado dentro da indústria de forma a contribuir para a resolução de um problema.
Inicialmente foi fornecido um questionário para entrevistas de apoio à cultura e outro de entrevista descritiva adaptada a realidade da empresa, para traçar o perfil da empresa e projetar ações que pudessem beneficiar a mudança de cultura voltada para o bem estar dentro e fora da indústria.
Durante essa pesquisa foram entrevistados 131 colaboradores os quais foram escolhidos de forma aleatória. Após a coleta dos dados, iniciaram-se os treinamentos. Montou-se um grupo de 8 pessoas selecionadas pela empresa, que apresentavam o perfil de liderança dentro do grupo não sendo necessariamente lideres. Os treinamentos de liderança em bem-estar foram desenvolvidos durante sete sessões de uma hora cada e o suporte entre colegas em cinco sessões de uma hora. As ações foram sugeridas e criadas durantes os treinamentos da equipe, passando pelo aceite da empresa e com o auxilio da equipe do SESI/RS.
Os princípios que guiaram a execução são: (1) educação é uma forma de dar poder (empowerment) para as pessoas agirem no cuidado com a sua saúde; (2) a melhor abordagem que o profissional pode usar para educar é pelo próprio exemplo. Os gestos e as ações de quem ensinam fortalecem as palavras que são ditas; (3) ensinar não é suficiente, é preciso dar suportes para que as pessoas internalizem essas novas informações; (4) ensinar exige o reconhecimento das crenças e conhecimentos que as pessoas já possuem, para então, articular novo saberes; Para tal é necessário saber se colocar no lugar do outro e usar uma linguagem compreensível para ele. (5) a forma como o conhecimento é transmitido é tão importante quanto o conteúdo. Para a reeducação do estilo de vida é preciso ter paciência para explicar as mudanças e dar atenção às idiossincrasias que podem estar impedido as pessoas a mudarem suas atitudes; (6) os aspectos tangíveis do espaço onde o serviço ocorre também contribuem para o aprendizado. O espaço precisa ser agradável e propício para a troca de ideias; os aspectos estéticos influenciam o aprendizado; (7) o trabalhador precisa ter uma visão integral da sua condição de saúde. Ou seja, precisa enxergar a relação dos cuidados que está tendo com a sua saúde e a influência que pode exercer nos diferentes sistemas do organismo. Os profissionais da saúde disponibilizam informações e recursos, além de desempenhar uma série de ações para que o próprio trabalhador consiga cuidar da sua saúde e de seu bem estar. Elas estão associadas à prevenção, visualização do estado de saúde, motivação, atividade física e alimentação. O projeto envolve etapas como: (1) tradução, adaptação e aculturação da metodologia (2) validação de instrumentos de avaliação (3) capacitação da equipe envolvida com o projeto (4) workshop com o Prof. Judd Allen (5) lançamento na empresa (6) intervenção por doze meses (7) avaliação final (8) publicação dos resultados.
3 Resultados
Os pesquisados estavam divididos em 67,9% do sexo masculino e 32,1% de feminino, nas faixas etárias entre 20 e 25 anos (20,6%) e mais de 40 anos (19,1%). Foram questionados em relação ao apoio à saúde dos trabalhadores e ao bem-estar e se este estava entre as principais prioridades nesta organização como um todo. Verificou-se que 30,7% dos funcionários discordaram com essa afirmação, embora 45,9% concordaram. No que se refere a viver uma vida saudável ser altamente valorizada no grupo de trabalho, identificou-se que 35,9% dos funcionários indicaram concordar com tal firmação.
Ainda questionados sobre o apoio dos colegas, percebemos que 45,9% concordam que os colegas apoiam uns aos outros nos esforços para adotar práticas de vida mais saudáveis e 30,4% discordam desta afirmação.
Das 25 ações propostas pelo grupo, algumas foram implementadas até o final das intervenções, dentre elas: implementação de cardápio mais apropriado no café da manhã; melhora do refeitório com climatização do ambiente; entrega de EPI´s mais ágil; implantação da ginastica laboral, cobertura no local do almoço, entre outras.
4 Considerações Finais
O desenvolvimento do projeto provocou o levantamento em conjunto de melhorias a serem realizadas na empresa onde o trabalho foi desenvolvido e potencializado pela metodologia inovadora apresentada. As ações apontadas pelo grupo foram vinculadas diretamente com a melhoria do ambiente de trabalho e incentivo para um estilo de vida mais saudável. A participação e escuta dos funcionários e líderes de bem estar foi fundamental para mostrar à empresa a priorização das próximas melhorias a serem trabalhadas. Nesse sentido, afirmamos que a metodologia aplicada atingiu a expectativa de desenvolver a cultura do bem estar dentro da empresa.Foi preciso realizar algumas alterações nametodologia para adequar com a realidade da empresa, mas não interferiu no contexto geral de todo o projeto. Encontraram-se dificuldades em relação à seleção desta equipe, pois a mesma foi indicada pelo gerente da empresa sem termos um prévio conhecimento dos colaboradores, ressaltamos que poderíamos fazer uma seleção utilizando questionamentos de bem estar ao grande grupo e assim conhecer e saber quem estava apto a participar dos treinamentos. Ainda nesta linha foi preciso conhecer bem a empresa a sua necessidade e principalmente seu objetivo, para que em cima destas informações fossem formuladas ações a serem desenvolvidas pela empresa para melhorar o bem estar. Para este fim aplicou-se uma pesquisa de apoio cultural na qual foi possível verificar o momento que a empresa estava passando e quais as ações que poderiam melhorar o bem estar de todos colaboradores.
O projeto entendeu que o melhor caminho para melhorar a saúde do trabalhador é a mudança de atitude. Ele deve ser visto como uma pessoa que precisa adquirir novas competências para manter a sua saúde e ter um estilo de vida saudável em busca de sua qualidade de vida e de seu bem estar. O trabalhador é o agente transformador na mudança de atitude necessária para uma vida saudável. Mas o apoio e suporte do grupo será um incentivo para tornar visível ao trabalhador a sua progressão no controle da sua condição de saúde e irá motivá-lo a manter seu estilo de vida em busca do seu bem estar, sendo um suporte para o auto cuidado, na lógica da pro atividade.
Referências
ALLEN, Judd. Healthi Habits, Helpful Friend: How to Effectively Support Wellness Lifestyle Goals. Burlington: Healthyculture, 2008.
ALLEN, Judd. Wellness Leadership: Creating Supportive Work Environments for Healthier and More Productive Employees. Burlington: Healthyculture, 2008.