Inaiara Kersting, Fernando Ribas Feijó, Paulo Antônio Barros Oliveira
Resumo
Este trabalho é parte da pesquisa de mestrado realizado desde 2014, com os servidores da FASE/RS. O objetivo principal foi compreender a influência do trabalho na saúde mental desses servidores, através da análise das relações laborais lá existentes e de que forma a organização do trabalho está imbricada nesse processo. É um estudo qualitativo, composto por observações, diários de campo e entrevistas realizadas com 14 sujeitos, locados em unidades da capital. As entrevistas foram gravadas mediante concordância dos entrevistados e os mesmos assinaram um TCLE. Os resultados foram analisados de forma qualitativa, utilizando análise de conteúdo.No passado, com nome de Febem, a mesma instituição possuía um caráter bastante disciplinador e a violência era comum. A partir de 2002 ocorreu uma reformulação e políticas como ECA e SINASE, entre outras, vieram dar suporte ao novo modelo de atendimento. A Psicodinâmica do Trabalho de Dejours (1992), nos ajuda a pensar essas reformulações pois, conforme Merlo (2002), está voltada para a análise da coletividade e para a organização do trabalho, a qual os indivíduos estão submetidos e nos dá uma visão do conceito de sofrimento psíquico como uma vivência subjetiva, sendo este, algo intermediário entre a doença mental e o bem estar psíquico. Lancman & Sznelwar (2004) enfatizam, ainda, que um trabalho estruturante é aquele em que o trabalhador consegue desenvolver inteligência, criatividade, subjetividade e intersubjetividade no preenchimento dos espaços entre o que é prescrito pela organização e o realizado pelo trabalhador efetivamente.
Podemos inferir assim que o elevado número de horas extras, medicalização, estresse, tensão constante pelo medo real e imaginário, além da elevada carga de trabalho são alguns dos pontos colocados como fatores provocadores de sofrimento e adoecimento. Questões como a possibilidade de criação de projetos e autonomia nas decisões figuram como importantes “remédios” para a manutenção da saúde mental nesse ambiente. A partir disso, é urgente a necessidade de intervenção e melhorias na organização do trabalho nessa população. Pensando nisso, uma parceria com o SESMT da instituição já foi iniciada e este trabalho, assim como pesquisas anteriores (Feijó, 2015) na mesma instituição tem servido de dados para que este processo seja o mais sumário possível.
Referências
DEJOURS,C. A loucura do trabalho: estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez – Oboré, 1992.
FEIJÓ,F.R. Saúde Mental e Qualidade de Vida em Trabalhadores da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2015.
LANCMAN,S.&SZNELWAR,L.(orgs) Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho,Brasilia/ Rio de Janeiro: Paralelo 15/Fiocruz, 2004.
MERLO,A.R.C.; Psicodinâmica do trabalho. Artigo extraído do livro Saúde mental & trabalho: leituras. JACQUES, M. da G. e CODO, W. (Orgs.). Petrópolis: Vozes, p. 130-142, 20