¹Tania Beatriz Scherer, ²Rosana Pozzobon, ³Fátima Rosane Bomfim Sampaio.
Resumo
O adoecimento emerge como estratégia defensiva dos trabalhadores quando o trabalho perde seu significado subjetivante, não propiciando alternativas à capacidade criativa de quem o exerce. Como nem sempre tais estratégias são efetivas em seu propósito de aliviar o sofrimento, identificá-las em seu nascedouro, analisar coletivamente as alternativas mais saudáveis e produtivas que os grupos oferecem, bem como refletir sobre as saídas encontradas por estes em sua relação institucional constituem algumas das formas de se promover a saúde e melhorar a qualidade de vida. Nesta via, considerando a saúde como algo mutável, em movimento, cujo bem estar psíquico centra-se na liberdade dada ao desejo de cada individuo na organização de sua vida, como destaca Dejours (1986) e baseando-se numa abordagem metodológica da Análise Institucional elaborou-se um programa direcionado a Saúde do Trabalhador, objetivando prestar assessoria às Unidades de Saneamento quanto às relações de trabalho no âmbito intrapessoal, hierárquico e referente aos processos de trabalho a fim de gerar novas estratégias de saúde, intermediando os processos de grupo e promovendo a autonomia e o autogerenciamento destes. Para tanto, efetuaram-se assessorias gerenciais, acompanhamentos de reuniões, grupos de discussão e oficinas. Assim, entre 1999 e 2009 foram realizados 194 grupos, 251 entrevistas, atingindo 647 trabalhadores. Nestes grupos, ao serem escutados, eles podem pensar como trabalhadores e se apropriar de suas queixas, procurando resolvê-las, ao invés de ficarem presos a elas. Ali podem fazer uso da palavra, questionar e propor soluções, decorrendo daí um sentimento de valorização, de identificação com seu trabalho. Assim, o trabalhador sente-se acolhido, cuidado e digno de atenção. Enfim, a comunicação que estava obstruída encontra livre acesso e libera o grupo para pensar suas relações de trabalho e sua importância dentro deste mundo tão complexo onde passam grande parte de sua vida. Notabilizou-se, portanto, a partir da implantação do Programa um melhor gerenciamento dos recursos internos das equipes e de suas relações interpessoais e a formação de multiplicadores de uma cultura gerencial direcionada a uma valorização do aspecto humano, enquanto componente significativo da saúde, percebida, assim, em seu sentido integral.
Bibliografia
DEJOURS, Cristophe. Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, n. 54, v.14, 1986.
BAREMBLITT, Gregório. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 5 ed. Belo Horizonte : Instituto Félix Guattari, 1992.
¹Psicóloga. Trabalha no Departamento de Saúde e Segurança, na Superintendência de Recursos Humanos – Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN).
²Assistente Social. Atua no Serviço Social junto ao Departamento de Saúde e Segurança, na Superintendência de Recursos Humanos – Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN).
³Assistente Social. Atua no Serviço Social junto ao Departamento de Saúde e Segurança, na Superintendência de Recursos Humanos – Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN).