Ivan Corrêa, Angela Regina Martins, DanielaCarneiro da Silva, Gisele Penha Pires
1- Introdução
Este projeto foi elaborado por técnicos em Recursos Humanos da Prefeitura de Santo André-PSA e lançado em 13/02/2014, a fim de atender algumas demandas como os macros objetivos da atual administração pública quanto a desenvolver ações para a valorização dos servidores.
Inicialmente, visou apenas aqueles já em vias de aposentar-se, que segundo levantamento, está em torno de 35% do quadro funcional até fins de 2016. Em um segundo momento, pretende atender todos os servidores, para preparação e planejamento desta fase a longo prazo.
Trata-se de uma proposta inovadora na prefeitura e, segue as tendências de mercado sobre o trato humanizado e preventivo sobre esta questão, e que jamais fora realizada antes por qualquer ente da PSA. Os mentores estratégicos e táticos são servidores técnicos da PSA, selecionados e treinados para conceber e desenvolver esta tarefa, garantindo um serviço de qualidade adequado à linguagem e a realidade do setor, e a quase custo zero.
Após estudos, estruturou-se assim o perfil da programação com temas e técnicas específicas como palestras e outras atividades facilitadoras ao aprendizado, focando no atendimento das necessidades dos servidores-participantes quer em regime Estatutário-ETT ou Celetista-CLT.
O programa do projeto prevê um total de 24 horas-aula por grupo, divididos em 08 encontros, onde os apresentadores, denominados “Consultores”, selecionados e preparados pelos técnicos do DRH devem ter experiência e formação acadêmica ligada ao tema de sua responsabilidade e alguma facilidade para falar em público. Estes consultores recebem orientação sobre as premissas centrais do projeto e do seu módulo, as analisa e ajusta. Em seguida, a equipe coordenadora, acompanha as realizações, que são avaliadas pontualmente por cada participante e após analisadas pelos técnicos para o controle da evolução e qualidade no atendimento das necessidades do grupo.
Além desse controle efetivo, outro diferencial do projeto é que todos os participantes após o curso podem solicitar “consultas individuais”para mais apoio e esclarecimentos com qualquer consultor: Médico, Enfermeiro, Psicólogo, Economista, Administrador, Educador Físico, Nutricionista, etc. Durante este período foram realizadas 17 consultas individuais para Finanças, além de atendimento pré- consulta médica para controle de doenças metabólicas para todos os participantes.
Este projeto é dinâmico e está em constante revisão a fim de atender as características e necessidades de cada grupo, por isso são aplicados: Questionários de entrada - Q1; de Aproveitamento - AVR de cada módulo; Questionário de saída - Q2 e Pesquisa de Assimilação- PA1, aferindo o alcance, as necessidades e as sugestões de melhoria apontadas.
O PPA também já proporcionou desdobramentos para novos trabalhos de Desenvolvimento oferecidos ao servidor, como o Programa de Educação Financeira-PROEF e o Controlando a Saúde do Trabalhador-CST.
Os sentimentos localizados nos participantes do PPA, desde o seu piloto, sugere que a maioria apresenta uma grande expectativa com relação a esta nova fase de vida, mas a encaram como uma “Fase de Novas Descobertas”, necessitando desse apoio para troca de experiências, tomadas de decisões e tracejar de novos planos de vida.
2- Metodologia e marco conceitual
Para a elaboração deste projeto consideramos alguns teóricos que focam as diferentes influencias sobre a decisão final do trabalhador sobre a aposentadoria: alguns dependem dos atributos pessoais, outros das características do trabalho e outros que consideram as organizações onde estes trabalhadores atuam. Kim e Feldman (2000) também ressaltam que idade, sexo, condição de saúde, condição sócio- econômica, além da condição geral do parceiro e das características do emprego, influenciam a tomada de decisão para a aposentadoria.
Na mesma linha de pensamento, Solinge e Henkens (2009) acrescentam mais uma variável nesse processo: a expectativa subjetiva de vida.
Além disso, é preciso levar em consideração a influência exercida pelas políticas dos governos como também a estrutura das organizações e a situação econômica dos futuros aposentados nesta tomada de decisão; itens aterradores para os participantes de nossos grupos do Projeto Novos Caminhos, (Kim & Feldman, 2000; Wang & cols. 2009; Solinge & Henkens, 2009). Ulrich e Brott (2005) assinalam que uma vida mais ativa contribuirá de forma significativa para a decisão do indivíduo em permanecer trabalhando.
A análise de estudos desenvolvidos em outros países indica que a manutenção da vida ativa, está relacionada à satisfação na vida como um todo. As atividades de trabalho voluntário e de lazer têm sido apresentadas como um complemento neste momento, e facilitam a adaptação à nova rotina de aposentadoria (Kim & Feldman, 2000; Wu, Tang & Yang, 2005).
O aumento da expectativa de vida e as melhores condições de saúde da população, também têm influenciado os trabalhadores a permanecerem por mais tempo ativos, seja na própria área de atuação, ou em outra área, na qual poderão desenvolver outras habilidades.
Considerando esta base teórica e indicações das chefias da PSA sobre uma queda significativa na produção e na qualidade de trabalho apresentados pelos servidores nesta fase de pré-aposentadoria, isto nos impeliu a elaborar este projeto. Detectamos assim, 240 servidores, em regime celetista e estatutário, já em fase próxima, cumprindo apenas o período chamado de Abono de Permanência (ABP).
Foram convidados 60 desses servidores para cada grupo e com a anuência de suas respectivas chefias, porém apenas 25% deste total detectado, participaram das atividades (palestras, exercícios específicos, debates, testes, etc.), divididos em 04 grupos.
Os demais convidados alegaram não terem sido liberados pela chefia e ou a não divulgação do evento por parte de suas chefias. As ações do projeto são sempre controladas tecnicamente por meio de questionários específicos para acompanhamento da sua evolução e demais contribuições fornecidas pelos participantes.
3- Conceito e objetivo do projeto
Projeto elaborado por servidores técnicos da PSA e seus entes, com objetivo inicial preparar os servidores do quadro funcional prestes a aposentar-se, e em segunda instância, os jovens servidores para um planejamento de longo prazo, a fim de leva-los a criar um conceito positivo sobre a aposentadoria.
Seus objetivos mais específicos visam: informar os servidores sobre os aspectos legais previstos; despertar interesses adormecidos; superar angústias; planejar as finanças e compartilhar planos. Bem como, estimular estes servidores a hábitos saudáveis e produtivos no trabalho até a data derradeira.
3.1 - Estratégias e Técnicas aplicadas:
As técnicas escolhidas para aplicação das linhas mestras do projeto foram palestras, exposição dialogada, exercícios e jogos específicos, dinâmicas de grupo, filmes e apresentações artísticas. Estas são aplicadas conforme a habilidade do consultor do tema, a fim de que atinja os objetivos previstos no PPA, bem como os da disciplina em questão, garantindo a obtenção das metas que é de 90% de satisfação e motivação dos participantes para aceitação do projeto, já que é um facilitador para o planejamento da aposentadoria, para o desligamento saudável do trabalho e para uma mudança de visão sobre essa fase de vida.
Quanto às estratégias escolhidas, inicialmente foram detectados 240 servidores com até 02 anos para esse desligamento legal, em seguida, foram formados 04 grupos para até 40 participantes convidados e autorizados por suas respectivas chefias a participar.
Todas as edições do projeto foram efetivamente controladas por questionários específicos preparados para a coleta de dados que são analisados, compilados e enviados ao Departamento de RH para a ciência e providencias. Além de enviá-los aos consultores para acompanhamento do andamento de cada edição e módulo, pois o seu desempenho é acompanhado e monitorado pela equipe técnica do projeto para a garantia das premissas do projeto.
Há de se reforçar ainda, que o diferencial ativo deste projeto é a possibilidade do participante dar continuidade a sua preparação solicitando o agendamento para Atendimento Individual,incrementando as informações recebidas durante os módulos para um direcionamento mais pontual das suas necessidades. Lembrando também que foram realizadas 17 agendas de consulta individual para Finanças, que podem ser confirmadas por meio de outros documentos de controle e por listas de presença.
3.2-Programação Aplicada:
Para a grade de assuntos fizemos estudo de necessidades e do perfil do servidor da PSA, definindo uma grade com 07 temas diferentes e complementares, divididos em 08 encontros com um total de 24 horas – aula por grupo, destacando para tanto, os estudiosos Solinge e Henkens (2009) que foca a questão da atual longevidade humana e outras mudanças para estas gerações, provindas já de meados do último século.
Sendo assim, temos a seguinte grade de temas e sua devida sequencia de aplicação:
4- População alvo
Nosso foco são os servidores efetivos e comissionados, estendendo livremente aos terceiros prestadores de serviços e outros interessados pelo assunto pertencentes atuando na PSA.
A princípio nosso foco central foi os 240 servidores, que já recebem o abono de permanência, pois já detêm a maior parte das exigências legais para o pedido oficial da aposentadoria. Passado o atendimento imediato dessa população, o projeto será adequado para atendimento dos demais servidores, primeiro, com até 05 anos da aposentadoria e na sequencia os demais mais jovens.
5- Resultados apresentados – PPA / 2014
O projeto está implantado e atingiu os seus objetivos, principalmente os qualitativos, como um reforço emocional, da autoestima e motivacional dos servidores que relataram na saída do evento “já estar se sentindo mais motivados, amparados e valorizados pela PSA para enfrentar este momento de suas vidas”.
Neste sentido, muitos acreditam e sugerem uma abertura para a participação de familiares na programação para enriquecer este planejamento, pois julgam a “volta para casa” algo delicado que deve ser orientada para não ser fator de conflitos (Kim & Feldman, 2000; Wu, Tang & Yang, 2005).
Diante do descrito, a seguir ilustramos alguns dos resultados principalmente, quanto aos sentimentos, atitudes e planos revelados por estes participantes, após 06 meses de participação no PPA, sugerindo uma mudança sutil na visão e conceito perante a sua aposentadoria.
Observa-se ainda, que passados esses poucos meses este sentimento parece se reforçar e não se esvair, mostrando a importância dessa iniciativa como responsabilidade social das empresas quanto este aspecto delicado da vida.
Assim, fica patente que o interesse ativo da empresa é essencial, sendo um ato ético e de elevada gratidão com os seus colaboradores que dedicaram os melhores anos de suas vidas na instituição.
A seguir apresentamos a Tabela 01 que ilustra as características e perfil do grupo geral, e da amostra de controle, mostrando inclusive resultados significativos aos que viveram essa experiência educativa.
5.2- Mudanças de atitudes frente à Aposentadoria:
6- Considerações finais
Para concluir fazemos um relato qualitativo sobre os resultados quantitativos apresentados neste ano de existência, que de modo contundente, demonstra uma aceitação e aproveitamento significativos desse projeto (Tabela01 – item C), sugerindo atuar como apoio ao servidor uma vez que mostram declaradamente dúvidas e expectativas quanto a essa questão e o seu futuro.
Os dados para implantação e controle de eficácia do projeto foram coletados por meio de questionários, mencionados no item Metodologia, que revelaram como os participantes entraram e saíram do evento, após terem recebido as informações e compartilharem apoio com os colegas da PSA em mesma fase vida.
Tais dados revelam um alcance e resultados comportamentais significativos desse projeto, inclusive passados 06 meses da participação dos servidores no evento(Gráfico 01).
Estes resultados indicam que houve uma mobilização psicoemocional positiva dos participantes para uma revisão saudável do conceito de aposentadoria em suas vidas, sugerindo uma disposição efetiva para um melhor planejamento para esta nova fase de vida. Alguns comentários também sugerem que estão mais integrados e motivados á outras realizações com os colegas no trabalho, como apontar ações de melhorias no trato dos servidores, pois essa vivência de grupo os estimulou á buscar novos encontros inclusive após a aposentadoria.
De modo geral, os grupos atendidos apresentaram um perfil homogêneo, sendo a maioria de mulheres entre 51 a 60 anos, com bom nível escolar e funcional, em fase bem próxima da aposentadoria normal, não a compulsória (Tabela 01- item A) fatores distintos importantes que segundo Kim e Feldman (2000) ressaltam ter grande influência nas escolhas futuras.
Além disso, já durante o desenvolvimento de cada módulo de cada edição do evento, a maioria dos servidores, a caminho da aposentadoria compulsória, nos afirmou que já estavam alterando os seus planos e que parariam antes de completar os 70 anos de idade para não ter perdas previstas em leis para estes casos, decisão clarificada a estes como fruto dos esclarecimentos do módulo 2- Leis e Direitos.
Assim, ficou patente que esta orientação é necessária para que os servidores planejem seus sonhos e ações, para que também garantam a plenitude de seus ganhos futuros, a fim de planejarem-se devidamente a troca de cargos, via concurso, durante os anos de trabalho, tomando decisões conscientes sobre os seus benefícios das mudanças previstos em vista das leis existentes (Tabela 01 – Item A - tempo no cargo X tempo para aposentar),pois já se nota que muitos não alcançarão todos os itens legais significativos para a aposentadoria integral desejada apesar do seu tempo de casa e que não tinham este conhecimento.
Quanto aos esclarecimentos fornecidos e o grau de aceitação/satisfação do projeto na Tabela 01 – item C, percebe-se que os objetivos de concepção visados pelo PPA foram atingidos, bem como suas metas previstas (90% de satisfação e motivação dos participantes) fator revelado pela sugestão do possível amadurecimento dos sentimentos e atitudes dos participantes que indicaram uma disposição ativa para essa preparação e decisão mais consciente quando do ato de aposentar-se (Gráfico 01).
Assim, recomendamos também que este projeto se estenda aos demais servidores considerando como prioritário, para sua motivação pessoal (Gráfico 02), principalmente, para aqueles que estão mais próximo deste momento, a fim de que tenham tempo hábil para um planejamento mais consciente, e em seguida, aos mais novos de idade e casa para que possam refletir sobre os cuidados a serem tomados no transcorrer da vida profissional na PSA.
Além disso, é necessário que este projeto conte com mais participação ativa dos gestores no estimulo e liberação dos seus colaboradores, principalmente considerando que também que estes devem ir planejando a saída deste servidor do seu “time” necessitando conscientizar o grupo da importância da transferência de conhecimentos aos demais do grupo de trabalho e até de expertise desse futuro aposentado como seu legado á próxima geração.
Sugerimos ao DRH também que prepare outros servidores de seu time de analistas para manter ativo e em revisão permanente este projeto, com vistas de resguardá-lo e torna-lo um programa definitivo em sua grade de serviços oferecidos aos servidores da PSA, e mesmo, como uma ferramenta de gestão de RH.
Além disso, que este se estenda como aprimoramento de seus objetivos, em responsabilidade social, aos familiares dos servidores já em vias de aposentadoria, para que de modo espontâneo e amoroso, participem de forma acolhedora da preparação do seu ente familiar para que tenha uma volta ao lar carinhosa e vitoriosa.
Referências
1. EMILIANO, N. Aposentadoria, o Idoso e a Família. Disponível em: http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo368.shtml. Acesso em 07/04/2008.
2. FRANÇA, L. H. de F. P. Qualidade de Vida na Terceira Idade. Revista Ciclo, nº. 3, Dez. 2000.
3. FRANÇA, L.H..de F.P.; S., D.H.P. Preparação para a aposentadoria como parte da educação ao longo da vida. Psicologia: Ciência e Profissão. Brasília, v. 29, nº. 4, dez. 2009.
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5. RODRIGUES, M., et al. A preparação para a aposentadoria: o papel do psicólogo frente a essa questão. São Paulo: Revista brasileira de orientação profissional, v. 6, nº. 1, jun. 2005.
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7. ZANELLI, J.C.; SILVA, N. Programa de preparação para Aposentadoria. Florianópolis: Insular, 1996.
8. ZANELLI, J.C. Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2010.