1Leontina da Conceição Pedro Moia, 2Angela Regina Martins, 3Rosemeire Gavião Rossani, 4Edila Paula Viana de Oliveira
Introdução
A Organização Mundial da Saúde classifica a dependência como uma doença que atinge 10% da população,instala-se em pessoas que apresentam uma predisposição mórbida (tendência a uma anormalidade) e é ativada pelo estimulo de fatores sociais, emocionais e familiares. Tem como característica:
· Primária;
· Crônica;
· Progressiva;
· Fatal;
· Tratável que pode ser estacionada.
O dependente químico é aquele que faz uso descontrolado do álcool, drogas, cigarro, medicamentos, etc. Em 1993 o Semasarealizou um estudo interno e identificou que:
Os servidores compareciam ao trabalho,em estado de embriaguez; Elevado índice de absenteísmo; Desperdício de materiais; Desempenho profissional baixo; Acidentes de trabalho; Estabilidade no trabalho como escudo; Cultura do funcionário “Bebo para matar o bicho”. Assim, o Semasa elaborou a política interna do programa para a prevenção e controle da doença, visando mudar a cultura do beber e reduzir as perdas e os danos no trabalho e na família.
O Programa objetiva transmitir conhecimento mediante a manutenção da Política de Prevenção e Controle da Dependência Química; Desenvolver ações educativas e preventivas (campanhas e grupos de sensibilização) para todos os servidores da Autarquia; Recuperar o funcionário dependente químico; Reintegrá-lo à equipe de trabalho, a família e a sociedade; Motivá-lo para o estado de sobriedade; Treinar os gestores para identificar e encaminhar os funcionários com intercorrências no local de trabalho e fazer o acompanhamento deste.
A implantação do programa recebeu o apoio da Superintendência; Formação e treinamento da equipe técnica;a Assessoria do Centro de Tratamento Bezerra de Menezes, dos Grupos de autoajuda (Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e Al-anon) e do NAPS – Núcleo de Atendimento Psicossocial em Dependência Química - Ambulatório da Prefeitura.
Metodologia
A metodologia de atendimento do Serviço Social é por meio de abordagem, orientando o servidor, os familiares e os gestores do Semasa, seguindo as ações e diretrizes da Política interna da Autarquia.
As diretrizes do programa mantêm:
· Foco no desempenho profissional;
· Avaliação constante do desempenho profissional pelos gestores;
· Aplicação de sanções disciplinares em função do fraco desempenho e comportamento inadequado, quando motivado pelo álcool/drogas - (Estatuto e CLT) e não pela recusa ao tratamento;
· Ação dos Gestores:Identificar o problema; Documentar; Tomar as providências; Encaminhar para abordagem; Reintegrar ao trabalho.
· Perda de Cargos/funções gratificadas dos gestores nos casos de acobertamento em situações de alcoolismo no ambiente de trabalho.
Ênfase na ação dos gestores:
· Reforçar que o programa é confidencial;
· Orientar que receber ajuda, não excluí procedimentos disciplinares;
· Não dar “lições de moral” ou discutir problemas pessoais, a menos que ocorram em local de trabalho;
· Não fazer diagnóstico;
· Não se deixar levar por históricos de má-sorte para provocar compaixão;
· Não acobertar um amigo. No final só irá prejudicá-lo e impedir que ele receba ajuda;
· Toda ação disciplinar deve se basear em desempenho profissional.
Tratamento:
O tratamento é realizado em clínica especializada e conveniada que contempla: Internação (30 dias) e/ou tratamento Ambulatorial de 9 meses, para funcionários estatutários e, os funcionários CLT são encaminhados para o ambulatório do NAPS. Posteriormente o servidor é reintegrado à equipe de trabalho, à família, á sociedade e ao Grupo de Apoio interno.
Além da clínica conveniada, podemos encaminhar o servidor para outras intuições que oferecem algum tipo de tratamento e/ou autoajuda. Sendo assim, temos 122 funcionários que se submeteram a internação no Centro de Tratamento Bezerra de Menezes; 12 em outras instituições (igrejas. etc.); 69 realizaram em paralelo o tratamento ambulatorial no Centro de Tratamento Bezerra de Menezes; 69 passaram por tratamento no ambulatório NAPS – Núcleo de Atendimento Psicossocial da Prefeitura Municipal de Santo André e 20 servidores fizeram tratamento de autoajuda nas salas de alcoólicos anônimos e narcóticos anônimos.
Grupo de Apoio Passo a Passo
· Formação: Fevereiro de 1994: com 05 integrantes – até o momento já passaram pelo grupo 102 funcionários;
· Coordenação: Profissionais da equipe técnica - Serviço Social e Psicologia;
· Apoio dos grupos de AA. e NA;
· Reuniões: Semanais com duração de 2 horas, todas as sextas-feiras pela manhã.
· Permanência mínima de 2 (dois) anos no grupo após tratamento.
Objetivos do Grupo:
· Colaborar na continuidade do tratamento dos integrantes;
· Discutir situações que colaboram para a manutenção da sobriedade, através de estudo dos 12 passos e das 12 tradições dos Grupos Anônimos (AA. e NA);
· Reforçar a necessidade de participação e integração nos Grupos de AA e NA;
· Colaborar para a melhoria do desempenho profissional de seus integrantes através do crescimento da sobriedade.
Destaques para a conscientização do integrante do grupo
· Há diferença entre abstinência e sobriedade;
· Que a participação nas reuniões do grupo de apoio não exclui a participação semanal em reuniões de NA e AA;
· Cumprimento do regulamento interno, estimulando a disciplina no tratamento;
· Resgate de valores morais e espirituais como princípio de recuperação e sobriedade;
· Fortalecimento da impotência perante o álcool ou as drogas.
Regulamento
· Garantia do sigilo e anonimato;
· “ESTAR LIMPO”- não fazer uso de químicos;
· Participação nas reuniões das salas de anônimos (AA e/ou NA);
· Faltas: limite de 01 (uma) por mês justificadas (comprovantes);
· A Recaída faz parte da doença e não do tratamento;
· Exclusão do grupo: se “voltar à ativa” - quebrando a serenidade do Grupo.
Marco conceitual
O Programa de Prevenção e controle da Dependência Química trabalha com o Grupo de Apoio Passo a Passo, aplicando técnicas de grupos operativos, dinâmicas de grupo e utilizando os conceitos teóricos da filosofia ALCOÓLICOS ANÔNIMOS queé uma irmandade mundial de mais de cem mil *homens e mulheres alcoólicas, unidos a fim de resolver seus problemas comuns e de ajudar seus irmãos sofredores na recuperação daquela velha e desconcertante enfermidade, o alcoolismo, praticando os conceitos dos Doze Passos.
· Primeiro Passo – “Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas”.
· Segundo Passo – “Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos a sanidade”.
· Terceiro Passo – “Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos”.
· Quarto Passo – “Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos”.
· Quinto Passo – “Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas”.
· Sexto Passo – “Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter”.
· Sétimo Passo – “Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições”.
· Oitavo Passo – “Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.”´.
· Nono Passo - “Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem”.
· Décimo Passo – “Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente”.
· Décimo Primeiro Passo – “Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade”.
· Décimo Segundo Passo – “Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos a transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”.
* OS DOZE PASSOS - Forma Integral: consultar o Livro: "OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES" Disponível na JUNAAB - Junta de Serviços Gerais de A.A. do Brasil.
Resultados
Relacionamento social:
· Maior e melhor participação e convivência social;
· Reconquista do respeito – autoestima;
· Maior responsabilidade com a família;
· Melhoria nas condições de moradia;
· Resgate de confiança junto aos mais próximos.
Trabalho:
· Assiduidade;
· Aplicação correta do salário recebido;
· Reconquista de respeito e confiança;
· Responsabilidade e amadurecimento no trabalho - (presença em escalas de plantão / horas extras, menos perdas e conflitos);
· Melhoria no nível de conversação;
· Interesse e participação em outros programas de Qualidade de vida na empresa (Programa Interno de Educação, etc.).
Análise de frequência antes e depois do tratamento
Analisando o gráfico de frequência no local de trabalho, podemos constatar que este servidor antes do tratamento especializado em dependência química, totalizou alto índice de faltas, porém após o tratamento o mesmo estabilizou, inclusive em apresentar atestados médico.
Classificação das substâncias
· Nº de funcionários abordados – 273
Após análise dos dados referente às substancias utilizada pelos servidores do Semasa, podemos verificar que o álcool é a maior incidência.
Conclusão
Após dezoito anos de existência, concluímos que o programa possibilita uma condição melhor na qualidade de vida dos funcionáriosem recuperação, no relacionamento familiar e profissional, refletindo na melhora da qualidade dos serviços prestados por esses funcionários à população de Santo André, com redução de perdas e custos, e o cumprimento adequado das normas da Política da Qualidade.
Mensagem final
Oração da Serenidade
Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar. Coragem para modificar aquelas que podemos e Sabedoria para distinguir umas das outras.
Referências bibliográficas
Alcoholics Anonymous World Services, Inc.(2010).Os Doze Passos e as Doze Tradições. 1 edição Editora Junaab. 174 p.
Narcotics Anonymous World Services, Inc. (2005). Guia para Trabalhar os passos de Narcóticos Anônimos. Brazilian Editado NAWS, Inc. 139 p.
1Assistente social, formada em Serviço Social pela FAPSS – Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul, possui curso de especialização em Aconselhamento em Dependência Química pela UNIFESP – SP, atua há 17 anos como assistente social. Coordena o Programa de Prevenção e Controle da Dependência Química do Semasa, bem como o Grupo de Apoio “Passo a Passo”.
2Gerente de Desenvolvimento de RH, responsável pela criação e gerenciamento do Programa. Psicóloga e bacharel licenciada em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo. Pós-graduada em Administração/Gestão de Pessoas pela Universidade São Marcos de São Paulo. Possui 30 anos de magistério em Psicologia / ensino médio.
3Assistente social, formada em Serviço Social pela FAPSS – Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul, possui curso de especialização em Aconselhamento em Dependência Química pela UNIFESP – SP, atua há 26 anos como assistente social e faz parte da Coordenação do Programa de Prevenção e Controle da Dependência Química do Semasa, bem como o Grupo de Apoio “Passo a Passo” há nove anos.
4Psicóloga, formada pela FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas. Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, atua há 12 anos como psicóloga e faz parte da Coordenação do Programa de Prevenção e Controle da Dependência Química do Semasa há três anos.