1Ana Paula Domingues Chinellato, 2Patrícia Maria Serrano
Introdução
Para este estudo usa-se o referencial que define o termo stress como qualquer evento que advêm do ambiente interno ou externo alterando a adaptação do indivíduo podendo acarretar em risco para o mesmo ou para a coletividade (LAZARUS, LLAUNIER, 1978). Atualmente, tem se o trabalho, como uma das maneiras pela qual o ser humano garante sua sobrevivência, onde este lhe confere identidade, integrando sua personalidade e, muitas vezes, sendo a razão do próprio viver. Porém, o trabalho apresenta graus diferenciados de satisfação dependendo da maneira pela qual é desenvolvido (MUROFOSE, ABRANCHES, NAPOLEÃO, 2004).
O trabalho nas organizações de saúde tem se apresentado como grande gerador de stress, pois é uma área que exige dos profissionais um desempenho ainda mais avançado, habilidoso e de qualidade, do que outras áreas, uma vez que, se executa cuidados diretos com as pessoas internadas e seus familiares durante todo o tempo de assistência, vivenciando a luta com a vida e a morte dos pacientes (STUMM, 2009).
Esta prática laboral, com as cobranças que lhe confere a profissão e os estressores que a envolve, faz com que todos os dias aumentem em nosso cotidiano o número de pessoas que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 90% da população esta afetada por algum grau de estresse. Em contra partida, temos que saber lidar com o stress gerado por esse trabalho, aspecto este que vem sendo discutido e estudado na literatura científica (BATISTA, BIANCHI, 2006).
Dentre os conceitos estudados, tem-se a primeira pesquisa que abordou Hardiness enquanto construto psicológico que foi publicada em 1979, através de um estudo longitudinal hipotetizou que as pessoas que permaneciam sob alto grau de stress sem apresentar doenças, mostravam uma estrutura de personalidade diferenciada das que se tornavam doentes sob stress; esta personalidade foi então caracterizada pelo termo hardy personality (KOBASA, 1979).
Hardinessé também conceituado como coragem existencial, é a coragem de seguir adiante, de encarar a vida, que organiza o modo de pensar sobre a influência recíproca com o mundo, e promove a motivação para fazer coisas difíceis (MADDI, 2002).
Diante disso e levando em conta a escassez de estudos em Clínica Médica, este estudo tem por objetivo identificar os fatores estressores e a presença de atitudes Hardy nas equipes de enfermagem em Clínica Médica, pois também se observa neste local o stress gerado e vários estressores envolvidos.
Marco conceitual
Segundo Selye (1956), o stress é definido como uma reação do corpo frente a qualquer alteração, uma conseqüência normal do funcionamento do corpo e é reproduzido pelo fato de se estar vivo. O stress tem sido estudado cada dia mais, como um problema atual, pois os sintomas destes trazem riscos para o bem estar físico e mental (MENZANI, 2006).
Em 1956, teve - se o primeiro artigo específico sobre stress, este foi publicado por Hans Selye na revista inglesa Nature, com o título “Síndrome produzida por vários agentes nocivos”, que tentava explicar que a síndrome poderia ser estudada de forma autônoma a todas as alterações específicas provenientes dela. Selye chegou a esta conclusão após anos de estudos, analisando sintomas comuns em pacientes que apresentavam diferentes tipos de patologia. Estes sintomas não sobrevinham pela patologia em si, e sim pela condição geral das enfermidades (LIPP, MALAGRIS, 1998).
Os sintomas físicos comumente encontrados em situações de stress são: fadiga, dores no corpo, insônias, dores de cabeça, palpitações, alterações intestinais, náuseas, extremidades frias e resfriados constantes. Os sintomas psíquicos ou mentais e emocionais citam à diminuição de concentração e memória, confusão, indecisão, perda do senso de humor, ansiedade, nervosismo, depressão, raiva, frustração, preocupação, medo, irritabilidade e impaciência (LIPP, MALAGRIS, 1998; FIGUEIRAS,HIPPERT, 2002).
A adaptação do corpo frente a esses sintomas segundo Selye (1956) é exteriorizada por meio de três estágios: alarme, resistência e exaustão, descritos a seguir:
· Reação de alarme: resposta inicial da síndrome, com observação a um estágio de adaptação ou resistência que se seguia após exposição contínua a qualquer agente nocivo ou estressor capaz de provocar esta reação, esta fase consente em uma rápida identificação do perigo, habilitando o organismo para esta reação propriamente dita. Para fins de sobrevivência esta reação de alarme ocasiona uma segunda etapa chamada de “Fase de resistência”.
· Fase de resistência: o organismo procura justapor e resistir à agressão, o que pode durar anos, quando se tem um prolongamento da exposição do organismo frente aos agentes nocivos dá-se então a terceira e última fase denominada de “fase de exaustão”.
· Fase de exaustão: origina-se pela diminuição de energia da pessoa onde seu esforço de adaptação se esvai, seja pelo desaparecimento do estressor ou pela exaustão dos mecanismos de resistência.
Com isso Selye (1956) classifica o stress de duas formas: a) eustresse, como stress positivo, interpretado pelo esforço da adaptação, que gera sensação de realização pessoal, bem estar e satisfação das suas necessidades; e b) distresse, ocorre devido uma tensão ocasionada pelo o rompimento do equilíbrio bio-psico-social por excesso ou falta de esforço caracterizado pela resposta negativa do indivíduo.
Uma resposta adaptativa inadequada pode gerar conseqüências indesejáveis e desagradáveis, resultando em doença. Esta resposta esta atrelada a sobrecarga que ocorre na ativação do eixo hipotálamo-hipófise - adrenal, com uma constante elevação dos hormônios, que leva às alterações patológicas (FRANÇA, 1999).
Devido à maior utilização da palavra stress, seu sentido torna se cada vez mais indefinido, ocasionando certa confusão em torno do seu verdadeiro significado, ainda nos dias de hoje erroneamente o termo é usado para denominar as mais diversas e variadas coisas (FIGUEIRAS, HIPPERT, 2002).
Stacciarini e Trocóli (2000) falam de três conceitos que define stress: um estímulo atuante causado por um estressor, a resposta diante da tensão percebida pelo estressor e ainda pelo processo pessoa-ambiente, atrelado a ação do ambiente interno e externo.
O termo estressor se caracteriza como qualquer evento ou emoções que podem ser positivas ou negativas; predizendo as alterações físicas e mentais, resultante em stress (MARTINS et al., 2000).
Segundo Serra (1999), algumas das características do trabalho que podem ter repercussões negativas sobre o indivíduo, a sobrecarga (ou a subcarga) de trabalho, a pouca autonomia de decisão, a existência de conflitos, a ambigüidade de papéis, a má comunicação na empresa, as más condições físicas no trabalho e alguns aspectos relacionados com a carreira profissional. O stress no trabalho é uma das causas mais freqüentes de mau humor nos indivíduos podendo ter complicações negativas no ambiente familiar, produzindo prejuízos para a saúde física e psíquica. Além disso, pode ainda ter efeitos negativos no funcionamento da organização de trabalho.
O nível de stress no trabalho depende também das características de personalidade como responsabilidade, perfeccionismo, competitividade; grau de preparação, tolerância a incertezas, capacidade de aceitar as mudanças, motivação, padrões de comportamento, podem-se associar as características pessoais dos profissionais e as relações com as situações organizacionais outros fatores que são capazes de alterar a saúde física e mental dos mesmos (SERRA, 1999).
A própria saúde poder ser um estressor, os profissionais de enfermagem que estão inseridos nas organizações vivenciam situações que podem alterar sua saúde física e psíquica, como por exemplo, muitas horas de trabalho, muito tempo longe de seus familiares, má alimentação, exigências ponderais da organização, dentre outros fatores que podem alterar ou prejudicar a saúde destes profissionais como a associação de papéis, ausência de suporte administrativo e técnico, além da falta de reconhecimento público da profissão (SERRA, 1999; STACCIARINI, TROCOLI, 2001; MUROFOSE, ABRANCHES, NAPOLEÃO, 2005).
No entanto, diante de tantos estressores vivenciados, o modo de enfretamento destes é extremamente importante para que não se adoeça frente aos acontecimentos diários (MADDI, 2002).
Copingsão estratégias de confronto entre um estressor e o stress gerado pelo mesmo, através de mecanismos para enfrentar os agentes percussores de stress. Segundo Folkman & Lazarus (1980), coping é definido como um interventor entre o estressor e o resultado advindo desse estressor e pode ser dividido em duas categorias: o coping focado na emoção e o coping focado no problema.
Quando focado na emoção, as estratégias de coping buscando alternativas de resolução do estressor através das próprias emoções do indivíduo que busca no equilíbrio interno dos sentimentos para obter a resposta ao estressor. Já o coping focado no problema, é composto pela interação da reação entre o indivíduo e o ambiente, através de esforços permitindo que o indivíduo lide adequadamente com as situações que induzem o stress, estabelecendo planos de ação (FOLKMAN, LAZARUS, 1980).
Para definir estas duas categorias do coping, os pesquisadores basearam-se na análise da situação estressante. Diante deste panorama o coping é definido pelo conjunto de esforços comportamentais e cognitivos em que o indivíduo vai lidar com as demandas internas ou externas, que aparecem em situações de stress e são avaliadas como sobrecarga ou excedentes de seus recursos pessoais (LAZARUS, FOLKMAN, 1984).
A avaliação cognitiva é muito importante quando se fala de coping, pois é ela que define a partir de uma situação indutora de stress, quais os recursos sociais e pessoais que o indivíduo detém para então desfrutar-se das estratégias de lidar com stress. Deste modo, para que o indivíduo possa apreciar se a circunstância é ou não relevante para seu equilíbrio, ocorre o envolvimento de três avaliações (LAZARUS, FOLKMAN, 1984).
Na avaliação primária ocorre uma apreciação pelo indivíduo de uma situação particular, tida como, ameaçadora, desafiadora ou imparcial. Na secundária, é realizada avaliação do potencial de agressão que o estressor pode acarretar frente às possibilidades de enfrentamento que o sujeito possui incluindo a procura de estratégias disponíveis para administrar o evento, seja obliterando-o, acomodando-se ou neutralizando a emoção que ele mobilizou. Por último, a reavaliação observa-se os resultados atingidos e se há a necessidade de utilizar novas estratégias. A partir do sucesso com as estratégias ocorre uma reação positiva do organismo deixando deste modo de existir o stress. Porém, ocorrendo o oposto, desprende se processos orgânicos e psíquicos com graves danos a saúde do indivíduo. (LAZARUS, FOLKMAN, 1984).
Como citado anteriormente os estressores dependem das características individuais e do ambiente para repercutirem no indivíduo, do mesmo modo no tipo de enfrentamento utilizado, dentre elas Hardiness é um conceito que tem sido estudado no sentido de se conhecer sua relação nesse processo (SERRANO,2009).
Hardinessé um conceito que esta sendo usado com a finalidade de explicar as possíveis diferenças individuais no enfrentamento e percepção do stress (KOBASA, 1979). Pressupõe se que tem efeito direto ou indireto na saúde e no bem estar, impulsionando recursos sociais como facilitador do coping transformacional, sendo este uma forma de alterar o agente estressor com uma atitude otimista levando a diminuição das tensões e assim aumentando a tranquilidade e o bem estar, desta forma diminuindo o stress negativo (MADDI, 2002).
Através de atitudes hardy, as pessoas apresentam um modo particular de enfrentar o stress, exteriorizando formas mais saudáveis e vigorosas; a partir disso realiza uma quase adaptação física e mental de bem-estar para enfrentar tais situações. Essas pessoas aproveitam os acontecimentos e as experiências estressantes para crescerem com elas (KOBASA, 1979).
Segundo Kobasa (1979), indivíduos hardy apresentam algumas características peculiares como: crença de poder controlar ou influenciar eventos; habilidade de sentir-se envolvido ou comprometido nas atividades de sua vida; e a antecipação de mudanças como desafio e motivação para crescimento pessoal. A partir destas características se formulou três hipóteses.
A primeira hipotetizou que “entre as pessoas sob stress, aquelas que apresentam um grande senso de controle sobre tudo o que acontece em suas vidas, continuarão mais saudáveis quanto àquelas que se sentem impotentes/inertes diante das forças externas”. Essas pessoas possuem controle de decisão, pois, conseguem administrar o stress, possuem agilidade de interpretar, avaliar e incorporar várias formas de eventos estressantes desativando seus efeitos gritantes (controle cognitivo). O amplo repertório de respostas apropriadas ao stress é desenvolvido através da motivação para tolerar todas as situações demonstrando suas habilidades de coping (KOBASA, 1979). Para esses indivíduos não importa se as coisas estão mal, são indivíduos com um forte controle, tentam influenciar as consequências, não lamentam o passado e desta forma não apresentam uma postura fraca e passiva (MADDI, 2002).
A segunda hipótese diz que “entre as pessoas sob stress, aquelas que se sentem comprometidas em várias áreas de sua vida, continuarão mais saudáveis do que aquelas que são alienadas”. As pessoas comprometidas têm um sistema de crenças que reduz a ameaça percebida. O encontro com um ambiente estressante é acalmado por um sentido de propósito que impede de desistir do contexto social e de si próprio, mesmo em momentos de grande pressão (MADDI, 2002). Desenvolvem um sentimento de estar envolvidas com outras pessoas, o que serve como um recurso de força generalizada, tornando-se prestativas ao dar assistência em momentos que requerem reajuste. Reconhecem seus distintos valores, objetivos e prioridades, e apreciam sua capacidade de ter propostas e tomar decisões, apoiar o equilíbrio interno e assegurar a competência para lidar com situações estressantes (KOBASA, 1979).
E a última hipótese de que “entre as pessoas sob stress, aquelas que veem a mudança como um desafio, continuarão mais saudáveis em relação as que a veem como uma ameaça”. As pessoas que se sentem estimuladas em relação a mudanças são catalisadores em seu ambiente, são práticas respondendo ao inesperado, valorizam as experiências interessantes, acreditando que a mudança exige explorar seu ambiente e a buscar recursos para lidar com o stress. Elas têm como objetivos fundamentais de vida a busca por novidades, que se tornam na idade adulta cada vez mais integrada às diversas situações; no entanto, essas pessoas não são levadas por aventura irresponsável. Sua motivação básica para a resistência permite que persistam mesmo quando a informação nova é excessivamente inconveniente, ocasionando tensão e doença. Essa característica promove uma maior flexibilidade cognitiva e tolerância às contradições que geram conflitos. O desafio promove a reação do sujeito frente ao stress como um aspecto normal do viver (KOBASA, 1979).
Métodos
Esta é uma pesquisa de campo do tipo descritiva, correlacional, transversal e com abordagem quantitativa. A coleta de dados foi realizada em uma Clínica Médica de um Hospital Geral Filantrópico de uma cidade do interior do estado de São Paulo, que atende a população local, com capacidade de internação na Clínica Médica para 48 leitos, dividida em quartos femininos e masculinos, com seis leitos em cada quarto. Os sujeitos da pesquisa são os membros da equipe de enfermagem da Clínica Médica composta por 06 enfermeiros, 52 auxiliares de enfermagem e 09 técnicos de enfermagem, distribuídos entre os quatro plantões, sendo dois plantões noturnos e dois plantões diurnos, que trabalham sob o regime de 12 horas por 36 horas de descanso. Os dados foram coletados aos participantes durante o período de trabalho dos mesmos por meio de dois instrumentos descritos a seguir:
INSTRUMENTO - 1 Escala Bianchi de stress
A EBS (Escala Bianchi de Stress) é composta por duas partes, sendo a 1º parte a descrição dos dados sócio-demográficos, que foi parcialmente adaptada para contemplar a população do presente estudo, a 2ª parte é constituída por 51 itens, abrangendo a atuação do enfermeiro hospitalar; na sua análise as atividades são agrupadas em seis domínios, a saber: (A) relacionamento com outras unidades e supervisores; (B) funcionamento adequado da unidade; (C) administração de pessoal; (D) assistência de enfermagem prestada ao paciente; (E) coordenação das atividades e (F) condições de trabalho. É divida em sete respostas, sendo graduada de 0 a 7, onde descreve para (0) não se aplica ou não faço, para (1 a 3) pouco desgastante, de (4 a 6) Médio e para (7) muito desgastante. O escore é obtido após a soma das pontuações dos itens componentes de cada domínio e o resultado dividido pelo número de itens, a partir disso se obtêm o escore médio de cada domínio. A escala foi testada quanto à confiabilidade interna, com o uso de alfa de Cronbach e obteve na escala total 0,96. Esta escala foi escolhida, pois se considerou que a opção de resposta (0) não se aplica ou não faço, permite que seja usada não somente para enfermeiros como também para técnicos e auxiliares de enfermagem (BIANCHI, 2009).
INSTRUMENTO – 2 Escala de Hardiness
Tem por objetivo avaliar quais características Hardiness estão presentes no indivíduo. É uma escala de 30 itens com respostas tipo Likert que variam de 0 (Nada verdadeiro) à 3 (Completamente Verdadeiro), o resultado é obtido através da soma dos itens, tendo os escores dos itens 3, 4, 5, 6, 8, 13, 16, 18, 19, 20, 22, 23, 25, 28 e 30 invertidos para então ser somados, permitindo o resultado por domínio e pela composição total da escala, classificando a presença das atitudes hardy em Baixo (0-30), Médio (31-60) e Alto (61-90), e para os domínios descritos da seguinte forma, 0-10 Baixo,11-20 Médio e 21-30 Alto. Cada domínio possui 10 itens, sendo 5 em cada um deles invertidos. O instrumento foi adaptado culturalmente por Serrano (2009) com enfermeiros que atuam em saúde pública, e obteve consistência interna através do Alfa de Cronbach de 0,74.
Os dados foram divididos em caracterização sócios demográficos e avaliação das variáveis stress e Hardiness; realizado pelo software Excel for Windows®, para análise estatística descritiva.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Paulista (UNIP), conforme protocolo nº 922/2011, além da apresentação aos participantes do TCLE em duas vias, sendo uma do participante e uma da pesquisadora garantindo a participação voluntária e o anonimato.
Discussão e análise dos dados
A coleta de dados foi realizada no mês de Outubro de 2011, a população estudada foram osmembros da equipe de enfermagem da Clínica Médica de um Hospital geral do interior de São Paulo, dos 67 profissionais apenas 27 sujeitos responderam os instrumentos (questionários) distribuídos, os demais referiram pouco tempo para responder os mesmos durante o período de trabalho. Na tabela 1 é apresentada a caracterização sócio-demográficas dos sujeitos.
A partir da Tabela 1- pode-se observar que maior parte da população estudada foido sexo feminino, sendo 77,8% (N=21), fato observado na enfermagem, pois há prevalência do número de mulheres que atuam na área, as mulheres são maioria na profissão, pois culturalmente a mulher tem ocupado funções relacionadas com o cuidado (BIANCHI, 2000). Quanto a idade, a maior concentração de indivíduos esteve na faixa etária entre 31 e 40 anos com 12 sujeito). Dos 27 participantes predominou a função de Auxiliar de Enfermagem com 66,6%, seguido dos Enfermeiros com 18,5%, o que se justifica pelo local da pesquisa e complexidade do cuidado (COREN-SP, 2010). Quanto ao horário de trabalho a maioria 55,6% (N=15) era do período diurno.
Tabela 1- Distribuição da população estudada conforme sexo, faixa etária, função e horário de trabalho, Sorocaba-2011.
Variável |
Frequência simples |
Frequência Relativa |
Sexo |
|
|
Feminino |
21 |
77,8 |
Masculino |
6 |
22,2 |
Total |
27 |
100 |
Faixa Etária |
|
|
20 a 30 anos |
6 |
22,2 |
31 a 40 anos |
12 |
44,4 |
41 a 50 anos |
9 |
33,4 |
Total |
27 |
100 |
Função |
|
|
Enfermeiro |
5 |
18,5 |
Técnico de Enfermagem |
4 |
14,9 |
Auxiliar Enfermagem |
18 |
66,6 |
Total |
27 |
100 |
Horário de Trabalho |
|
|
Noturno |
12 |
44,5 |
Diurno |
15 |
55,6 |
Total |
27 |
100 |
Para responder aos objetivos do estudo foram aplicados 02 instrumentos aos sujeitos, tais instrumentos tiveram sua confiabilidade avaliada por meio da consistência interna dos itens, a Escala de Hardiness para esta população apresentou Alfa de Cronbach de 0,64 para a composição total da escala e a (EBS) Escala Bianchi de Stress apresentou Alfa de Cronbach de 0,96.
Quanto aos estressores vivenciados, foi encontrado pela Escala Bianchi de Stress como mais estressante para equipe de enfermagem a Assistência de enfermagem prestada ao paciente, com média de escore de 78,4 para o domínio e o menos estressante a Coordenação das Atividades (média de escore de 56,3); a média total dos sujeitos para a EBS foi de 68, considerada pouco estressante uma vez que o escore total da escala pode variar entre 0 e 357, enquanto que para os domínios deve ser considerado o número de itens de cada domínio.
No estudo com apenas enfermeiros observou-se o Domínio E - Condições de trabalho para o desempenho das atividades de enfermeiro apresentou o maior escore, com um indicativo para alto nível de estresse, enquanto que o Domínio A - Relacionamento com outras unidades e supervisores foi o que apresentou menor escore (BATISTA, BIANCHI, 2006) diferentemente do que foi encontrado no presente estudo e pode ser explicado pelo fato de que o instrumento foi usado em equipe multidisciplinar e por isso não pode ser comparado com estudos com enfermeiros, portanto, será feita apenas a apresentação dos dados encontrados.
De acordo com os estressores por domínio, no Domínio A - Relacionamento com outras unidades e supervisores – observou-se que apesar de ser o item mais estressante do domínio, o item 44 (relacionamento com a farmácia) apresentou um escore médio de 3,9, o item com menor escore médio foi o 42 com 2,2 (relacionamento com o centro de material), sendo o menos estressante do domínio e do presente estudo, uma vez que os valores médios dos domínios podem varia entre 1 e 7, deste modo, considerados pouco desgastantes.
No Domínio B- Funcionamento adequado da unidade, o item 3 (controle de material usado) obteve escore médio de 3,8, enquanto que o item 5 (solicitação de revisão e conserto de equipamentos) 3,7 apresentando o maior e menor escore médio do domínio respectivamente, no entanto, ambas considerados como pouco desgastante.
No domínio C- Atividades relacionadas à administração de pessoal, o item 7 (controlar a equipe de enfermagem) apresentou escore médio de 4,5 considerado como médio desgastante, enquanto que o item 8 (realizar a distribuição dos funcionários) evidenciou um escore médio de 3,5 o que é pouco desgastante, considerando o número de sujeitos enfermeiros, o item 7 condiz com o estudo de BATISTA (2006) evidenciando que o controle da equipe é um gerador de stress para os enfermeiros e para a própria equipe.
No Domínio D- Assistência de enfermagem prestada ao paciente o item 21 (atender as necessidades dos familiares) é o mais estressante com escore médio de 4,6, ao contrário do item 17 (fazer exame físico do paciente) que apresentou 2,6 de escore médio. Embora o atendimento ao paciente apareça como uma categoria nas fontes estressoras do trabalho, o relacionamento com a família foi evidenciado como maior estressor neste domínio o que também foi encontrado em outros estudos (STACCIARINI, 2001).
NoDomínio E – Coordenação das atividades na unidade o item 31 (realizar discussão de caso com funcionários) apresentou escore médio 3,6 enquanto que o menor escore (2,7) foi do item 38 (elaborar rotinas, normas e procedimentos), ambos considerado pouco desgastante.
No Domínio F- Condições de trabalho o item 49 (realizar tarefas com tempo mínimo disponível) foi o item mais estressante do domínio e do presente estudo com escore médio de 5,5, porém considerado como médio desgastante, em contrapartida o item 35 (participar de eventos científicos) apresentou 2,7 de escore médio, sendo caracterizado como pouco desgastante. Ao comparar estes dados com Menzani (2006), pode se confirmar que este domínio confere um estressor significante para os profissionais. Stacciarini e Trócoli (2008) em seu estudo também reforçam este estressor, sendo este decorrente de um excesso de atividades cumpridas acarretando tanto problemas a nível físico como emocional.
De acordo com Stacciarini e Trócoli (2008), embora o estresse seja um fenômeno pessoal, as categorias identificadas indicam que alguns estressores são comuns, independentemente da área do cuidado, evidenciando a variedade de determinantes de estresse.
Tentando compreender esse fenômeno que é o stress, a influência das características pessoais, a Escala de Hardiness tem por objetivo evidenciar a presença Quanto aos domínios da Escala de Hardiness, Compromisso apresentou maior escore médio (21) seguido do Controle (20), Desafio apresentou um escore médio baixo (14,7) considerando que cada domínio pode pontuar entre 0 e 30 e que para se ter personalidade hardiness é necessário escore acima de 20 em todos os domínios, o item permite uma variação de 0-3 sendo o mais próximo de 3 considerado como alto hardy.
Na Escala de Hardiness, pode-se observar para o Domínio Compromisso no item 17 (tentar seu melhor no trabalho compensa no final) como sendo a de maior escore médio 2,5, e o menor escore médio do domínio foi o item 16 (pensar em você mesmo como uma pessoa livre geralmente leva a frustração) com 1,7, esses achados demonstram que apesar de algumas situações serem estressantes, as pessoas comprometidas reconhecem seus distintos valores, objetivos e prioridades, apoiando o equilíbrio interno (KOBASA, 1979; MADDI, 2002).
No Domínio Controle o item 12 (se eu estou trabalhando numa tarefa difícil, eu sei quando pedir ajuda) com escore médio de 2,7, sendo o maior escore do domínio e do presente estudo, enquanto que o item 8 (a maioria das coisas que acontecem na vida eram mesmo pra acontecer) apresentou um escore médio de 1,3. Para as pessoas com autocontrole não importa se as coisas estão mal, elas tentam influenciar as conseqüências, não lamentam o passado e desta forma não apresentam uma postura fraca e passiva diante do estressor (MADDI, 2002).
No Domínio Desafio o item 10 (é estimulante aprender algo sobre mim mesmo) e o item 13 (eu não responderei uma pergunta até estar realmente certo de que a compreendo) obtiverem escore médio de 2,5 e 0,4 respectivamente o maior e menor escore do domínio. Vale ressaltar que este domínio foi o que obteve menor escore médio enquanto domínio (14,7) não sendo, portanto, considerado alto hardiness, além disso apresentou o item com menor escore médio de todo o instrumento reafirmando o baixo hardiness. Contudo, o desafio promove uma maior flexibilidade cognitiva e tolerância às contradições que geram conflitos, promovendo a reação do sujeito frente ao stress como um aspecto normal do viver (KOBASA, 1979).
Pode-se dizer que inúmeros fatores influenciam no modo como um indivíduo responde ao stress e como este reflete em sua vida (SPIRI, GONÇALVES, SANTOS, 2004), no entanto, a personalidade hardiness neste estudo não foi observada apesar da presença dos estressores serem considerados de pouco à médio desgastante.
Considerações finais
Os resultados mostraram que os estressores abordados na EBS foram pouco percebidos pela equipe de enfermagem em questão, considerados como pouco e médio desgastante. Quanto as atitudes hardy, não foram observados indivíduos alto Hardiness, permanecendo pontuações próximas aos valores médios da escala.
Uma atitude mais otimista, valorizada e aprimorada através do construto de Hardiness pode expandir a satisfação no trabalho e na profissão, atenuar os problemas com faltas, rotatividade de pessoal, problemas de saúde gerados pelo stress, ampliar a qualidade no trabalho e na vida pessoal, uma vez que estar comprometido, controlado e desafiante aumenta a auto-estima e a assertividade, o que reafirma a necessidade de investimento pessoal e organizacional nesta área.
Para os próximos estudos sugere-se uma reestruturação para o Instrumento Escala de Hardiness devido ao alfa encontrado e a ampliação do tamanho da amostra.
Referências bibliográficas
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1Enfermeira.
2Enfermeira. Mestre em Ciências pela EEUSP. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da UNIP.